Acabar com os mitos

Caríssimos,

Nós homens somos sempre considerados uns verdadeiros mariquinhas quando estamos doentes. Quando a temperatura passa os 37º, dizemos que estamos com febre, e aproximamos-nos lentamente para uma morte certa. É um facto que somos mais frágeis do que as mulheres e que provavelmente, tornamos qualquer pequena doença, febre ou indisposição, num drama qualquer de altas proporções. Isto não é um mito. Acontece, em geral, com muitos homens. No entanto, aconselho que este processo continue. Para isso vou relatar o que aconteceu comigo, e porque é que sou traumatizado nestes assuntos.

Decorria o ano do nosso Senhor de 2012, mais propriamente no mês de Setembro. Los amados tinham uma vida atarefada. O Zé Maria tinha nascido há duas semanas, eu estava em pleno MBA e férias nem vê-las.
Eis senão quando, no dia 10 de Setembro de 2012, chego a casa pelas 18 horas queixando-me duma ligeira indisposição. A Rosinha, com todo o seu mau feitio e falta de paciência seu amor e afecto para comigo, diz-me com um ar de quem não quer aturar mais uma criancinha de compaixão e pleno amor "isso é fome, já passa!". Concordei com hesitação, mas confiei. Trata de miudo A e depois de miudo B e ainda do cão e passamos à mesa, para colmatar a fome e ficar em forma. Na verdade não consegui comer muito, e comecei a ter uma ligeira febre e dor de barriga. Como qualquer homem dirigi-me para o sofá e deitei-me de barriga para baixo e emiti vários sons de sofrimento e desconforto. Toda a situação levou a Rosinha perto do desespero  a ter que ganhar paciência redobrada para me aturar. Na verdade tinhamos dois bebés em casa, um deles recém-nascido. O que valia eu, naquele momento? Muito perto do zero e a caminhar para negativos....
As dores aumentavam até que a Rosa se foi deitar, e eu tomei a opção de resolver o assunto à força. Sim, sou  hipocondríaco   preocupado com a minha saúde e tenho uma pequena farmácia privada com comprimidos de várias cores. Utilizei-a com bom senso e fui descansar na esperança de resolver o assunto. Consegui permanecer 5 minutos na cama e levantei-me cada vez mais mal disposto e agora com dores que me faziam ganir ligeiramente. A Rosa insistia: " Acabei de ter um filho de  não sei quantos quilos e não me viste fazer essa figura, pois não? . Era verdade... Senti-me um mariquinhas e a partir daí comecei a aguentar e a calar... Perto das duas da manhã, fui bolsar ligeiramente para a casa de banho, como quem dá um golo pequeno num leite estragado. Fiquei mais confortado e pensei que tinha uma intoxicação alimentar. De facto, como mandam as regras da intoxicação alimentar expeli coisas do meu corpo de várias formas e feitios, de várias e cores e texturas. Um cenário dantesco, que por muito que eu tentasse era tudo menos silencioso. Assim, pelas 3 da manhã começo a ouvir berros e avisos recomendações assertivas da minha querida mulher para fazer menos barulho para não acordar os miúdos...

Depois de cerca de 30 segundos de conforto, comecei a ter dores alucinantes de barriga. Mais um ou dois berros de dor, e respostas de "XIUUUUU!" da Rosinha. Parecíamos claques de futebol, entoando cânticos desagradáveis entre sectores diferentes dum qualquer estádio de futebol.

São 6 da manhã. Estou desesperado. Não me consigo mexer. Penso pela primeira vez que não consigo fugir do cenário hospital. Tento abordar com calma a minha bruxa sonâmbula bela adormecida para me ajudar a ir para o hospital. Não funcionou. Como era óbvio, tinhamos que esperar pelos miúdos acordarem, deixá-los na escola e depois logo se via.... Verti a primeira lágrima... Esperei...

São 8 da manhã. Vou acordar os miúdos, e fingir que foram eles que acordaram sozinhos. Inicio o ritual da largada para a escola. Não aguento as dores. Estamos a sair de casa, uma luz ao fundo do túnel...A Rosa obriga-me a por uma máscara para não passar nada aos míudos. Não percebo, mas aceito. Naquele momento era capaz de tudo para ter uma boleia para o hospital. A Rosa vai deixar os míudos à escola enquanto eu fico no carro à espera. 20 MINUTOS!!! Tá tudo a gozar comigo, penso eu... Vamos para o hospital.... A Rosinha dizia que era fita... deixa-me à porta do hospital e diz que me vem buscar mais tarde, depois de ser visto.

Perguntam-me no hospital porque tenho uma máscara e eu respondo que não sei. Deitam-me numa maca e dão-me drogas. Ui ca bom! Vou fazer exames.... Apendicite aguda! Bem me parecia, pensei eu, que não era nada de comum... Fico sozinho no hospital numa sala e a partir daí tenho poucas memórias. Só sei que fui operado ás 20 horas. Dizam-me que seriam dois dias de recuperação e ficava impecável. Fico reconfortado e mais descansado....

Acordo nebuloso da operação, como quem está num nevoeiro intenso com a maior bobadeira da sua vida. Levanto-me da maca e peço a uma enfermeira um abraço. Só aí vejo a realidade. Olho para baixo, e tenho 2 tubos a sair da minha barriga, e uma bolsa com liquidos viscosos entre o laranja e o encarnado... Acordo novamente umas horas depois e explicam-me: " Ah e tal, parece que explodiu e está infectado. Pumba!

Resultado final: uma peritonite aguda, 15 dias de hospital, tubos, febre e mais dores....

Portanto, senhoras, mulheres, esposas. Quando o vosso homem se queixa, ajudem-no. É que às vezes as vossas regras são mitos. E o meu papel aqui é acabar com os mitos que prejudicam os homens.

E tenho dito....

Comentários

  1. Numa das estadias que a minha filha A. teve no hospital (estivemos duas semanas internadas, tinha ela 9 meses), presenciei as inúmeras entradas e saídas de crianças q tinham tido esse mesmo diagnóstico, peritonite aguda seguida de cirurgia! Até aquele momento, não tinha pensado que fosse assim tão comum... A partir daí fiquei em estado de alerta, sempre que uma das Trincesas (3 Princesas), particularmente a mais velha, de 5 anos, se queixa com dores de barriga, fico em vigilância...não vá o diabo tece-las!!! Se a dor permanecer após algumas horas e houver febre associada vou p as urgências.. Aconteceu em Fevereiro passado, mas felizmente era somente uma amigdalite, que por sinal também pode provocar vómitos e dores de barriga!

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