4/28/2016

Pessoas como nós




Estamos aqui sentadinhos e surge o convite
Numa primeira vez nem sabes se vais aceitar. Depois parece, ou não, entusiasmante e acabas por decidir ir.
Podes ir porque quem te leva/convida é fixe, podes ir porque queres dar mais ou podes ir só porque sim.
Vais ver e ouvir sobre voluntariado. Podes ir logo experimentar mas às vezes vais só ouvir para depois decidires se arriscas ou não.

Já passei por isso há uns anos, quando fiz voluntariado pela primeira vez. Foi uma coisa que ficou para sempre e me mudou.

Hoje cravei-me para outra experiência destas. Uma experiência em que três pessoas extraordinárias davam testemunho de voluntariado que tinham feito pelo mundo, uma na Índia, outra em África e Portugal e outra com refugiados na Sicília.

Ali sentadinha, enquanto os ouvia falar dos problemas e circunstâncias do mundo, especialmente do mundo novo que conheceram, é inevitável não pensarmos que o mundo está todo lixado.
Já está há uns anos, tem de ser uma coisa de anos, se não, não estaria neste ponto. Rebenta de refugiados de um lado, gente com fome e doenças de outro, problemas de suicídio, de pouca aceitação e de circunstâncias de vida inaceitáveis.
Sabemos disto tudo, vivemos mesmo ao lado disto na maior parte do tempo, mas vamos criando uma camada protectora onde já só o supra-sumo da barbatana nos surpreende duma maneira quase sadomasoquista.

Oiço e começo a imaginar os cenários que contam e começo a ficar meio nervosa. É que se não soubermos podemos dizer que não sabemos e pronto, mas saber e não fazer dá a sensação de compactuar com a cena. O que não é 100% verdade mas no meu caso acontece muito.

Algures no alto dos meus 20 anos a fazer voluntariado com a Equipa de África em Moçambique, passei por uma cena que me mudou. Estava lá há dois meses e num dos dias apareceu uma mãe a bater à porta do padre onde morávamos para pedir ajuda. Explicou-me que estava sozinha, a família toda tinha morrido de uma fatalidade e não tinha como sobreviver. Tinha dois bebés de colo, um dela e outro da irmã que morreu, um de menos de 2 e outro de menos de 1. Mamava um em cada maminha e tinha percorrido 40kms para pedir ajuda ou um trabalho ao padre, um trabalho que a permitisse sustentá-los. Recebi a mensagem e disse que o ia chamar. Corri com todas as pernas que tinha para o assunto mais urgente da minha vida. Cheguei ao padre meio sem fôlego e expliquei-lhe a situação. Ele responde calmamente que infelizmente não podia fazer nada, que era uma situação frágil mas que ele não tinha como a ajudar. Disse-me para lhe encher um prato de comida e dar-lhe, mas que não tinha trabalho para ela.
Voltei em passo lento com dois pratos, sentei-me ao lado dela para a ajudar com os miúdos e estar com ela. Ela pega na comida e a primeira coisa que faz é dar ao mais velho tudo o que ele queria (o mais novo ainda não comia sólidos), mas só depois de tratar do outro, de lhe lavar as mãos e de lhe dar água, é que ela comeu, num gesto que até me deixou sem fôlego.
Ela acabou por ir e eu fiquei. Não sei o que lhe aconteceu e não dormi bem nas noites seguintes.
Não havia nada que pudesse fazer para resolver-lhe o problema, ou talvez houvesse se estivesse em Lisboa ou se tivesse mudado tudo para resolver aquilo.

A verdade é que depois disso estabeleci que nunca mais ia deixar passar uma situação destas sem ter a certeza que podia ter feito mais.

Por isso, e sem fazer muito, partilho com vocês projectos que partilharam comigo e que fazem todo o sentido.
Quem estiver desse lado, quiser pegar e fazer mais por isto será espectacular. Um precisa mais de dinheiro e o outro de conhecimento nosso para uma resolução maior e mais integrada do problema. Diria eu, que não percebo nada disto.


Projecto Amelia
Hoje durmo aqui para tentar mudar a vida das famílias de Myanmar onde mais de 2700 crianças sofrem de cancro. Apenas 45€ permitem transportar para o hospital uma criança com cancro, por via aérea. Ajuda a fazer a diferença!



Refugiados
Um documento sem pretensões, simples. Para ser partilhado, melhorado, enriquecido, útil para todos os que quiserem. Para ser sugerido a outros. Para ser motivo de debate. Para ser impulso de novas ideias e soluções. Para ser motor de transformação. Sobre pessoas como nós.

candeia
noite de fados que angaria dinheiro para ocupação de tempos livres de crianças que estão em instituições. nós vamos




Se tiverem mais projectos que queiram partilhar, partilhem. Às tantas juntos podemos mais.

4/25/2016

Do famoso clichê para a vida real, sem tirar nem pôr

Do fim de semana em que amigos realmente são família, a que escolhemos.

Arranja-se a casa de um [casarão] e combina-se. vem um outro e outro e estamos. Outros que não podem ir o tempo todo vão o que vão e estão o tempo que dá.
A dinâmica é a de conjunto, não há nem os meus nem os teus, há os nossos.

A mão que está mais à mão ajuda e fazem todos por facilitar. As tarefas vão-se dividindo e acabamos todos por fazer o que queríamos. Como há tempo de sobra conversa-se e pomos tudo em dia. Livros, jornais, tricot, filmes ou jogos é escolher o serão que mais anima. E aproveitar.

Nem madrugadas, nem noitadas. Algures entre os dois. A conta certa.
Passeatas de mota, de barco ou de pernil vale tudo, mais ainda quando não falta gasolina à generosidade da dona da casa. Tudo isto e até uma caça à Belém que teve 30h perdida.
Tipo férias de 15 dias mas em 3 dias.

E as fotos falam disso tudo. Andei meio louca entre aproveitar e tirar fotos a tudo para depois voltar a aproveitar quando as vejo.
Foi fixe. Acho que se vê. Era uma grupeta fixe.

4/21/2016

sobre tirarem fotos para marcas

aquele mix entre por-los a trabalhar que pode ser pouco ético ou expor-los talvez mais.

no caso do manel começou com um sim a umas primas. nao vejo mal e se as ajuda tudo bem, não o magoa e não incomoda. daqui a uns anos não saberão que é ele, mas ele cheio de orgulho dirá que foi.

tem de ser até até ao limite em que ele não queira mesmo e que o deixe desconfortável. aconteceu logo na primeira vez. dois anos, quase três e não queria largar as minhas saias para ir para o meio dos holofotes. aquele mix entre insistir porque nos comprometemos e respeitar porque tem vergonha. acabou por não fazer muitas. depois percebi que era bom para ele ultrapassar a vergonha, ou pelo menos perceber melhor de onde ela vinha. se tem agora talvez tenha mais tarde e talvez seja melhor para ele ser menos envergonhado. ou não, mas ver melhor. e foi vendo e fazendo e com cuidado vamos percebendo. recebe cromos de pagamento e o dinheiro vai para a poupança dele, um dia pode dar-lhe jeito.

ao zé a mesma coisa. não tem vergonha e não se importa. faz e ri-se e adora. no caso dele ganha especial importância porque normaliza o que para o mundo ainda é meio estranho. um trissómico modelo ou é por pena ou por favor, nunca pensamos que é mesmo por ser giro. mas pode ser. o meu zé é um gato, como outros.

e depois o xavier. o rato de olhos claros e sobrancelhas de crescido. com ar de poucos amigos e um sorriso cheio de dentes. 

não sei se se importam e a verdade é que não pergunto nem explico disclaimers de cedências de imagens e afins. tal como não tomam decisões em tantas outras coisas da vida por eles próprios, tomamos nós por eles. 
e vão criando um pé de meia deles. [e umas fotos para mostrar às miúdas um dia]

Maria Gorda 2012 e 2014



 Cânte 2015









4/18/2016

18 de abril

no dia em que me pediste em casamento falaste logo deste dia.
é o dia em que a minha querida avó Rosa faria anos e seria sempre uma maneira de a ter a festejar connosco. achei delicioso sugerires e foi mesmo. o dia em que nos casámos.

levantei-me de manhã depois de uma noite que se pode dizer descansada.
apareceu um sr para me pentear e começou a dança. a minha querida mãe claro está sempre por lá e o resto da família. depois foram chegando as madrinhas, faziam companhia, vestiam-se e vestiam-me a mim. depois a tanica e a fatinha e quando estávamos todos e chegou a hora fomos. mal sabíamos nós a importância de ter lá a nossa tanica. 
meia hora depois da hora do previsto para toda a gente ter tempo de chegar e uma temporal de fundo. vejo isso nas fotos mas na verdade no dia nem dei bem por isso.

o mais dificil de tudo foi entrar na igreja. tudo de repente a olhar para mim e eu sem saber bem o que fazer. decidi começar a acenar a todos e dizer olá, o poço de formalidade do meu pai ficou meio baralhado, o joka que já ia quase no choro mudou logo para o riso de vergonha de me ver naqueles preparos.

ao som dos primos e irmãos do joão, com o tio padre Roque no altar lá fomos nós bem casadinhos. não me lembro de nada do que disse mas lembro-me de sentir uma alegria incrível e estar a começar o que era um sonho meu contigo. rimos os dois e recheados de madrinhas e padrinhos tudo correu na perfeição.

depois foi a festa, um festão. muito mais do que precisávamos muito mais do que se podia querer. a minha mãe e o pai zé trataram de tudo. da luz ao m&m nada falhava o pantone. digno de princesas.
O turbilhão de fotos lá foi mas com os noivos a fingir, e nós, nós estávamos por lá só a absorver.

conhecíamos toda a gente na sala, fizemos questão disso. fomos entregar os convites em mão, dois meses disso mas que valeram bem a pena.

depois veio o indiana jones e entrei às cavalitas do joka pela sala a dentro. não foi uma cena prevista mas à ultima pensei que era a melhor maneira de ter tantos olhos a olhar para nós. ele ia caindo e não caiu e lá fomos nós.

a valsa foi do belenenses, os padrinhos cantaram-me um poema, o sogro uma guitarrada e os cunhados uma musica animada. do meu lado tá visto que tiveste menos sorte com artistas mas o circo estava montado.

passou a 1, as 2 ,as 3, as 4, as 5 e às 6 lá deram os friends e fomos para casa meio contrariados. 
dormimos em casa a primeira noite, a primeira noite da nossa casa. primeira de muitas, 2555 segundo diz a conta (e não contarmos com os bisextos)

foi um dia memorável, aquele em que todos estão lá por ti e pela tua felicidade, e isso sente-se.
obrigada mãe rita e pai zé por isso tudo. hoje também é o vosso dia.

sobre os outros 2555 dias meu sr amado, uns foram difíceis, outros horríveis mas a grande maioria foram de grande felicidade. o sonho do primeiro dia tem-se concretizado, vai se concretizando cada vez mais. é tipo uma viagem de montanha russa, vibras a cada subida e cada descida com as conquistas e o desarme do que aí vem.

trata bem de mim que eu trato de ti também. que venham mais 70

[credo que isto hoje vai longo]






















o noivo também teve até ao fim mas os fotógrafos só perseguem as noivas, já se sabe.