8/25/2016

campos de sonhos e de loucuras

está num campo de férias a tanica, num campo como o campo em que a conheci. tinha ela na altura prai 11 e eu prai 23, não sei ao certo.

quando começou há uns dias ela mandou-me mensagem a dizer isso mesmo e deu-me cá umas saudades desses tempos. os tempos em que tinha tempo para fazer campos e tempo para uma entrega incrivel que é o que acontece. vais de mochila às costas sem saber bem o que vais encontrar pela frente, dormimos em tendas, tomamos banho no rio e fazemos chichi em latrinas como na guerra. e é uma guerra mas de emoções.

nós jovens lá lançados a dar o tudo por tudo para dar a estes miudos a melhor semana da vida deles. e eles miudos doidos por sair das instituições ou das vidas menos faceis que os trazem ali. e estamos iguais na entrega. começa o dia com um bom dia, pequeno almoço preparado pela mamã e tias de serviço e segue só em loucura. manhãs de jogos, tardes iguais e noitadas de palhaçada. os jogos organizados pelos tais jovens de 23 que estão sempre um passo á frente. também há jovens de 23 que são os lideres das equipas de miudos, que era o que eu era da da tanica e ela é agora de tantos. esses jovens lideres de equipas têm tanto de crianças como as que lá estão a jogar e têm só mais um bocadinho de mediadores para que tudo corra nos conformes. conformes esses que nunca estão bem definidos e vão sempre muito além dos sonhos. mas é duro. duro fisicamente porque os 10 anos parecendo que não dão luta e duro porque na entrega percebemos que estamos a lidar com tantas tantas fragilidades. deles muitas, e nossas outras tantas para estar e lidar com tudo aquilo sem perder o norte.

e há miudos tão queridos, quase todos são tão queridos. mereciam tudo de bom, e é isso mesmo que lhes damos com esperança que a vida depois continue isso na escala do infinito.
Tinha um miudo na minha equipa nesse tal campo que num dos dias desapareceu, foi um panico. o excesso de zelo faz-nos sempre fazer sentir que o zelo não foi assim tanto e ele fugiu. era um miudo triste e cheio de mau feitio mas querido ao mesmo tempo. numa hora do almoço, num tempo livre de descanso meteu-se entre arbustos e subiu subiu subiu até encontrar uma estrada, e uma aldeia, e um comboio, meteu-se no primeiro com destino a casa dos avós de quem tinha tantas tantas saudades e a quem estava proibido de ver, nós entretanto demos pela falta está claro e movemos mundos para o encontrar. um miudo de 8/10 anos que andava pralí perdido no mato achavamos nós, mas sabia ele o que procurar e numa epoca em que o telemovel ainda não era moda, muito menos dele, lá foi ele e lá chegou. a instituição disse logo que era onde ele iria mas nós sentimos-nos so minusculos.
chegou são e salvo ao destino que queria e foi um grande alivio para nós, não é normal fugirem nunca acontece mas o nunca aconteceu. Para ele era um numca comum.

o campo continuou como tinha de ser e foi importante para tantos outras com historias parecidas ou sem nada da ver mas de igual intensidade nas vidas dos participantes.
e depois à noite já no fim das energias fazemos-lhes um teatro no campo dos sonhos, novela como lhe chamamos dada a sequencia marada de episodios que seguem de uns dias para os outros pondo num chinelo qualquer loucura de unica mulher.

miudos no silencio da noite, que pode demorar a conseguir mas chega e os jovens de 23 juntam-se para preparar um novo dia. e que dias.

são dias incriveis eu que nos mudam muito e nos fazem crescer no sentido saudavel da vida. ainda que para isso tenhamos de assistir a realidades tão duras.

Por isso, este ano quando soube que o cmpo da tania calhava na semana dos anos do zé fiquei triste de não a ter mas tão contente de a ter lá. vou ficar também contente amanhã quando te tiver de volta.

o campo dos sonhos, os campos da candeia

[isto é só uma infima parte do que se passa nos campos, o resto é só magia e muito mais que dava um texto sem fim. quem já fez sabe do que falo, e quem nunca e em podendo, devia]



8/21/2016

O dia em que conhecemos o zé magia

Há quatro anos, grávida de 38 semanas fomos à consulta de rotina.
Tudo impec até à cara de más noticias do medico. Placenta a ficar velha e ele a querer que nós fossemos directos para o hospital para conhecermos o nosso zé. Disse que não era para panicar mas que não queria arriscar comprometer as trocas de sangue no cordão e por isso preferia provocar, não seria ele porque não estaria de serviço mas se recomenda lá fomos com muita tranquilidade.

Começámos por passar pelo macdonalds só para garantir que não nos iam deixar a passar fome. Carta do médico e lá demos entrada na maca dura de roer da sala de partos. Nada de contrações e nenhum médico ansioso por pôr a cena a acelerar. Para ultima noite antes de nascer podia ter escolhido uma cama mais confortável pensava eu. Casa cheia em São Francisco e não quiseram começar fartote logo ali percebi entretanto. Pensava na minha cama e na noitona que estava a perder, mas tudo por um zezinho e lá estávamos nós agarrados ao ctg à espera de ondas.

Cocorococó manhazinha e ainda nada. Lá para o meio dia a casa fica mais vazia e toca a despachar a Rosinha. Começam a induzir e a chegar a avó rita com revistas cor de rosa. Tudo se passava em cima da bola de pilates e já com as drogas que tinha direito. Piscinas para cá e para lá e o dia foi bem tranquilo. Passava a anestesista com um grande sorriso, a médica apaixonada pelas lãs que ele ia vestir no primeiro kit e a enfermeira parteira para controlar que nenhum de nós fugia.

Todos sabiam do diagnóstico, vinha na carta e na caderneta do bebé, todos me tratavam como uma heroína e estava a adorar. Ainda hoje não percebo bem porquê mas soube-me bem o mimo, devia ser assim sempre em todos os partos.

Depois explicaram-me que podia ter dificuldades em mamar e até respirar e por isso teria direito a médico pediatra a assistir, não é o momento mais glorioso da vida duma mulher e não adoro vender bilhetes para o show mas tudo bem, tudo por um zezinho.
No fundo eu sabia que não precisaríamos dos médicos a mais mas não valia a pena chatearmo-nos por isso.

A coisa das contrações e dos dedos de dilatação fica mais séria e salta para a maca dura da noite. Lado direito sentia as contrações, raio do miúdo tinha qualquer coisa em cima do nervo não deixava passar drogas. Joka ia ficando sem mão mas estava ali a dar tudo para me ajudar, não tinha estado no primeiro e tinha tido imensa pena. Noves fora nada e digo ao João que chame a enfermeira que tá na hora. A sra tava no vinha não vinha que que pareceram horas. Chegou e confirmou que o puto estava de saída.
Apetrechou a sala, chamou a audiência e deu-me um amok. Uma tristeza repentina pelo meu né que ia deixar de ser o pequenino e de ter um colo só para ele. Hormonas no seu melhor e a cara do João quando lhe disse o que sentia: Um misto de wtf e como te lembras disso a menos de um minuto de cuspir um filho?!
Hormonas joka, hormonas.
 As mesmas que minutos depois nos faziam chegar um Zezinho. Perguntaram ao João se queria cortar o cordão e nessa altura já estava fora de mim, ele e eu, o meu buda gorducho já lá andava e que coisa querida. Precisava dum banho tá claro mas querido demais, até o ar chinoca lhe dava uma certa graça pensei eu. Coisa querida da mãe. Tanto tempo a pensar como serias e no momento em que já nada disso importava lá estavas tu coisa mais querida. O mais bonito de todos à nascença.

Visto e revisto por todos e mais alguns lá teve alta para ser só da mãe e do pai. 9/10 no apgar, 1h depois mamava como gente grande e começavam os grandes desempenhos.

No corredor para a subida para o quarto conheceu os avós e a tia pilar, furaram o esquema só para te conhecer zezinho.
O nosso zé magia. O neto 21, nascido às 6h15 (soma 21), no mesmo dia que o bizavo dia 21 de agosto. Ficámos no quarto 3.21 três dias e depois viemos para casa ser felizes para [quase] sempre.

E quando quiseres saber diz que eu conto outra vez. Parabéns meu amor foste e és a melhor surpresa de todas.




8/17/2016

a quatro dias de fazeres quatro anos


. que me dês o mindinho, quando chuchas o indicador a adormecer

. que dês beijinhos com lingua e com estalinhos

. que ponhas as mãos nas bochechas e olhes para mim com ar apaixonado quando me queres convencer de alguma coisa e estamos os dois com calma.

. que te agarres e te escondas nas minhas pernas nas poucas e raras vezes que tens vergonha de alguém.

a quatro dias de fazeres quatro anos, quatro coisas que fazes que adorava que não perdesses nunca. vá que não perdesses já com a mania de crescer. que fizesses mais um par de anos.

quatro anos meu amor, está quase. que crescido


Dores de parto já com eles nascidos

Aquele ar deles a olhar para nós como se a pedir salvação. E nós que fazemos de tudo para os ajudar, entegamo-los aos maus da fita para lhe tratarem do sebo.

Chorava como nunca chorou, e ele é dos chorões. Esperneava mesmo meio grog e deu luta até ao fim do ultimo ponto [foram so dois na verdade].

E ver-te ali desesperado deixou-me a mim tonta. Raios, faz parte da vida, e o que é um vidrinho no meio de tantos problemas grandes que há no mundo?!

Não é nada de importante mas é o teu vidrinho, e o teu pé e a tua cara a olhar para mim a pedir ajuda. E eu nada, ou pelo menos nada que tu percebas.

Eu tinha do outro lado a minha mãe e as tantas olhava para ela com esses mesmos olhos. Que bom que tinha.

Não te vais lembrar e eu nunca me vou esquecer.


8/07/2016

A arte de saber esperar

Das mais difíceis de ensinar, aquela sobre a qual acho que ainda tenho muito a aprender.

Mas sobre ensinar, raios dá trabalho ensina-los a saber esperar. 

Começam por não saber esperar para comer, nem dormir, nem colo, nem nada.
Depois a cena vai evoluindo a vários níveis mas ao nível do saber esperar so lá vai com muita paciência nossa.

Ensinar que se pede uma pizza ela demora 15 minutos a vir, se estamos a caminho do boda demora 2horas a chegar ou se o mano tá a dormir temos de esperar que acorde para brincar. Espetar um telemóvel ou um tablet é a cena mais fácil , lápis para desenhos o nível 2 e nada só esperar o nível 3 que dá direito a diploma de curso.
Já fizemos de todos, e quem nunca errou que atire a primeira pedra, mas cada vez mais me chateia o primeiro cenario e tento viver sem os lápis do segundo. Ou se não como vão eles um dia saber esperar pela mensagem de volta do engate, ou para por o dedo no ar antes de falar, ou no limite aguentar um corte de energia. Ou esperar pelas férias em agosto.

Crescemos já sem imaginar bem como era possível que as cartas viessem a cavalo ou como se vivia sem telefone e mesmo tendo aprendido a viver sem telemóvel hoje dificilmente sabemos viver sem ele. Não sei bem que impacto terá isso neles. Às tantas é bom mas para ja assusta-me só esta cena do tudo aqui e agora. Tudo no momento em que se pede e exatamente o que querem.

Mas se da trabalho ensinar a viver sem nada, fonix dá um trabalhão. Isso e garantir que não destruímos a vida das pessoas que têm a sorte de partilhar esses momentos connosco. Como o sr da mesa ao lado no restaurante ou na praia onde algum deles pode passar uma boa hora a pedir um gelado.


O desafio da semana é aguentarem civilizadamente uma hora na missa. Ao mesmo tempo que lhes custa estarem sentados no silêncio dei por mim a realizar que são aprendizagens importantissimas na vida. As de só estar a ouvir esperar.

Lá chegaremos.



8/05/2016

Vai de quim

apanhou o autocarro o quimboio e o metro. 
normal na vida de tantos mas extraordinário na vida do né que vai e volta a pé ou de boleia para a escola.

estava feliz feliz. por vir com a mana, por vir ao mundo dos crescidos. foi assistir à aula de condução mas não havia cadeirinha não pode ir no carro, ficou na escola com a formadora. quando a mana voltou levantou os olhos do desenho e perguntou-lhe se tinha corrido bem, se tinha guiado bem e é delicioso.

depois vieram os dois almoçar comigo, croquetes como a mãe gosta no sitio onde a mãe trabalha, esse que se houve falar todos os dias mas que não cola com nenhuma imagem na cabeça dele. meio perdido perguntou se estava em lisboa. e queria ter ficado a tarde toda. teve vergonha como faz parte e agarrou as saias da mãe que na verdade eram calças.

se pudesse tinha ficado a tarde toda. por ele e por mim. mas foram. tá quase né [e outros] a mae está so a despanhar emails, apresentações e cenas para as três semanas de férias que se seguem.





8/01/2016

Fim de semana com sabor a ferias