História de adopção #9

Olá! Eu sou a Sofia, tenho 39 anos e sou adoptada! 


Não é o meu tipo de apresentação, nem tão pouco há muitas pessoas que saibam que sou adoptada. Não por ter vergonha, não por não querer mas para não estar sempre a responder à mesma pergunta:
“Não tens curiosidade de conhecer os teus pais biológicos?”
Para mim está é uma “não pergunta”! Para mim não há pais biológicos, há os meus Pais (com P maiúsculo), o Pedro e a Mónica!

Só tenho uns Pais e a resposta fica por aqui! Penso que ao longo dos anos e muito devido às séries americanas se formou o estigma que todas as pessoas adoptadas querem conhecer os seus pais biológicos (ou como prefiro dizer: as pessoas que me tiveram). Mas não! Eu não! Nunca tive essa curiosidade, apesar dos meus Pais sempre me terem dado essa escolha; sinto que me saiu o Euromilhões da vida e não podia estar mais feliz e mais agradecia por ter a família que tenho!

Fui adoptada com menos de 2 meses porque os meus Pais não conseguiram ter bebés e passaram por algumas experiências bastante traumáticas. Inscreveram-se e passaram pelo processo de adopção durante as gravidezes (sem sucesso) da minha Mãe e um dia ligaram-lhes a dizer que tinham um bebé para eles! Segundo o que me contam viram-me numa quinta-feira e foram buscar-me na segunda-feira. E o que acho mais impressionante é que na segunda-feira antes de me irem buscar, inscreveram-se novamente para outra criança!

Devido às experiências pelas quais os meus Pais passaram foram os últimos no grupo de amigos a ter filhos, por isso quando cheguei foi um momento vivido em família e amigos com muita alegria! Ainda hoje filhos de amigos dos meus Pais com quem perdi o contacto, vêem-me e lembram-se do dia em que me conheceram (os meus Pais apresentaram-me a toda a gente) e da alegria que todos sentiram (também a curiosidade por ser o primeiro bebé adoptado na família e no grupo de amigos).
Tanto eu como os meus irmãos (com 3 e 5 anos de diferença) sempre soubemos que somos adoptados; não sei dizer quando ou como é que foi mas os nossos Pais sempre disseram que não tínhamos vindo da barriga mas do coração e que nos foram buscar à “casinha” (Santa Casa da Misericórdia)! Sempre que fui buscar um dos meus irmãos ia ver a cama onde tinha ficado de mão dada com uma das enfermeiras.

Nunca houve qualquer diferença de tratamento na nossa família e raramente nos lembramos (irmãos) que somos adoptados.
Houve alturas complicadas durante a nossa infância em que na escola quem sabia gozava connosco e dizia que tínhamos sido abandonados porque não gostavam de nós ou porque éramos lixo, mas os meus Pais sempre lidaram muito bem e desvalorizaram ensinando-nos também a desvalorizar.
Nunca me senti diferente, apenas com uma sorte descomunal: não só tenho a melhor família do Universo como fui escolhida para esta família!

No entanto há sempre um misto de sensações quando vamos ao medico e nos perguntam o histórico da família e tenho que responder que sou adoptada! Ou quando (na adolescência) pensava que podia ser a única pessoa a ajudar alguém que me fosse “biológico”, por exemplo com a doação de um órgão e depois não tivesse para a minha família; mas foram medos que foram desaparecendo à medida que fui crescendo até ter engravidado pela primeira vez...

No rastreio das 12 semanas, deu positivo para as piores doenças (incompatíveis com a vida) e decidi fazer a amniocintese, durante o período de espera entre fazer o procedimento e receber os resultados (apanhei o período de férias) só pensava que não sabia nada do meu historial médico e que podia ser portadora de n doenças e transmiti-las aos meus filhos. Graças a Deus tudo correu bem e foi um falso positivo, também Graças a Deus tenho um obstetra fenomenal que compreendeu (e compreende) os meus medos e sempre me apoiou! E hoje tenho 2 filhos fantásticos e se a vida assim me permitir gostaria de adoptar e retribuir o que me foi dado!
Tenho uma família espectacular que não há palavras para descrever! Os meus Pais são as pessoas mais maravilhosas que conheço e um verdadeiro exemplo a seguir, não só me deram uma vida fantástica como uns irmãos fenomenais e todas as bases assentes nos valores e princípios da nossa família para poder vingar e agora transmitir aos meus filhos e permitiram que me cruzasse com o meu Marido que nunca questionou apenas compreendeu!

A minha experiência foi sempre muito positiva e os momentos menos positivos foram criados pelos estigmas que as pessoas têm...

Para acabar só posso agradecer aos meus (muito) queridos Pais e a toda a minha família! Vocês são a minha sorte grande!



Comentários

  1. Olá! Encontrei o blog da vossa família por acaso, no meio do tédio e do aborrecimento e da procura. Por acaso, ou não, esta mensagem foi logo a primeira mensagem que me chamou a atenção. Quero começar por dizer que gostei muito do que li, você escreve muito bem e teve realmente muita sorte na vida ao ser escolhida por essa maravilhosa família que teve a ação mais honrosa e nobre que se pode ter: adotar crianças. Dar-lhes uma casa, uma família, uma infância… uma vida. Infelizmente há muitas que não têm essa sorte, mas fico feliz por a senhora e os seus irmãos terem sido abençoados por esse casal. Eu própria, já quando era nova, e ainda não desisti da ideia, com quase 22 anos, sempre disse à minha que se ela tivesse netos, não viriam do meu corpo, pois nunca foi minha intenção colocar mais crianças no mundo quando há tantas por aí sem casa. Até disse que, se a vida fosse generosa comigo e tivesse bom dinheiro, moveria mundos e fundos, arrastaria montanhas se fosse preciso, e adotaria uma, ou várias, crianças escravas de África, pois acredito que são essas, acima de tudo, que precisam de ajuda, e se puder salvar pelo menos uma desse horror, já se pode considerar uma pequena vitória, pelo menos eu vejo as coisas assim. Gostaria de saber mais sobre todo o processo de adoção, para me ir já preparando. Poderia ajudar-me?

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