quarentena por João Amado I

Nota prévia: Nada do aqui relatado pode ser servido como prova em qualquer tribunal e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Este texto é escrito com a ortografia que o autor bem entender e tem provavelmente erros ortográficos, também derivado do facto que o autor possa ou não estar sobre influência de calmantes.
Foi no décimo segundo dia do querido mês de Março do ano do nosso Senhor de 2020 que se estabeleceu a quarentena na mansão Amado, devido ao infâme “cronouvidos” como é mencionado cá por casa. Este é um relato generalista do resumo dos primeiros 13 dias de inferno, sacrificio, clausura.
Alguns chicos-espertinhos optimistas, como eu, pensaram que seria uma óptima oportunidade para passar tempo de qualidade em família, ultrapassar em conjunto um mesmo desafio, termos mais tempo para ouvir o próximo e podermos crescer em conjunto.
Esqueçam essa m$#&%, esta p#”$$ é insuportável. Parece que tivémos mais desafios do que antecipámos. Como saídos dum filme, estamos em situação nunca imaginada, e eu penso diariamente em contemplar dor autoinfligida como posso tornar estes tempos melhores para todos.
As duas senhoras cá de casa tiveram uma sorte divina estão em árduo teletrabalho (telesorte) e por isso as outras responsabilidades de horário laboral passaram para mim. E que responsabilidades são essas que cumpro com vontade constante de me atirar pela janela todo o sentido de dever e orgulho? Por ordem cronológica, começa por ajudar a vestir 4 rapazes dos 9 aos 1. A super-mãe já deixou as roupas prontas (menos cuecas, sapatos e por vezes meias). Os três que supostamente já se vestem sozinhos e aparentemente sem cérebro enganam nas roupas ou as vestem ao contrário. O mai novo, todo o santo dia, já tem merda por todo o lado cocó (obviamente não sólido) a chegar à parte superior das costas, mesmo antes do pescoço, o que permite pensar diariamente que aquele será o dia que não irei esfregar as mãos em fezes moles. Sonho com banhos de alcóol matinais em vez dos 5 minutos que passo debaixo do chuveiro a chorar devagarinho por aquilo que me espera.
Com resolver isto tudo, pequenos almoços repetidos à revelia, não encontrando o bebé durante 10 minutos e quase ter um ataque cardíaco, e idas à casa de banho, já são 10H. Horas de começar as aulas. Yeah! Que sorte começar o dia assim. Pego nas fichas que imprimi no dia anterior e começo a distribuir pelos alunos. Um tem direito a cálculo mental (que eu mesmo com calculadora demorava uns minutos), o outro a fazer repetidamente a letra E, e outro a imitar o anterior a fazer a letra E. Não sei como fazem na escola. Não sei se sou eu. Mas de 10 em 10 segundos há alguém que tem dúvidas. PORRA, é fazer a letra e fazer umas contas, deixem-me em paz! Não esquecer que durante as “aulas” tenho um macaco de 1 ano que não pára de me fazer equacionar entregá-lo na segurança social chatear.
A esposa trata normalmente do almoço e muito bem, mesmo que me falta gordurinha da boa com molhanga e coca-cola, já que gere as compras lá de casa. No entanto antes do almoço, pelas 13 horas, é preciso fazer camas, aspirar a casa, limpar o pó (não limpo, finjo e minto que limpei) e passar água com duas tampinhas dum liquido azul, que pelos vistos resolve tudo.
Chega o almoço e a vontade de me atirar pela varanda está mesmo no ponto estamos todos juntos a partilhar o nosso dia. Isso dá direito depois a arrumar a cozinha, por tudo na máquina para a segunda máquina do dia e limpar pela 3ª vez do dia a cozinha. Nesta altura penso que não deveria ter gastado o crédito de ir à casa de banho logo de manhã e finjo uma pequena colite para me fechar na casa de banho 10 minutos e pensar em quão agradável pode ser pisar chão em brasa ou arrancar pelos do peito a frio em organizar a fabulosa tarde que aí vem.
São 14H30 e vai tocar a campainha para as aulas da tarde.
CONTINUA.... (para agora aproveitar o efeito do calmante que tomei)





Comentários

Mensagens populares