5/13/2020

dias em tempos de quarentena

 


acordamos lá para as 9h e tê-los já todos acordados lá para baixo. às vezes aparece o martim porta a dentro e vem enfiar-se entre os dois para aquecer os pés dele e a nossa alma.
acordamos atrasados para tudo o que é home schooling.
gritar por todos para se virem vestir. reorganizamos os cabides e armários e agora cada um tem um cabide onde deixa a roupa "só um bocadinho suja de ontem", veste os calções que aí andam e junta-lhe uma tshirt, cuecas e meias. fazem tudo sozinhos embora metade dos dias só encontrem 1 dos sapatos da véspera.
martim é outro filme, berra para se vestir e só se entrega à tarefa com a promessa de ir com a mana passear a belém. ainda que convicto consegue correr nú a cada oportunidade.

pequeno almoço a correr. pão feito pela mãe na véspera, alguns melhores outros piores. ao dia 58 ainda preciso de aprender mais sobre massa mãe. os maos novos preferem iogurte que também fazemos em casa e granola feita pela mana. nas primeiras duas semanas foi o ver se te avias a coordenar toda a linha de produção com toda a linha de aprendizagem desta nova vida mas conseguimos e hoje sai quase natural.
pai foi o organizador de todos os estudos deles e temos avisos de calendário a avisar todas as aulas de cada um. manel muda horário à semana mas já aprendeu a fazer tudo junto.

às 10h já metade de nós estão em aulas e trabalhos sentadinhos em PCs e ipads juntanto toda a tecnologia da casa.
martim aprendeu a ver tv com xavi na primeira hora, nos dias em que temos sorte e os chacras estão alinhados.
pai teve sempre no primeiro mês, está 2 dias em teletrabalho e 3 fora. às vezes a lisa vem quando o pai vai trabalhar e nesses dias parece que é tudo fácil.
lisa só começou a vir 1x por semana há 3 semanas. até lá, e ainda agora, a limpeza de casa era tarefa de todos ao molho e fé em Deus. às vezes faltavam cuecas, outras meias e outras faltava paciência para arrumar aquilo tudo. por a mesa é tarefa deles sempre, fazer o almoço era minha e toda a ginástica de gerir compras online e nesta recta final idas ao mini mercado da rua.
todos os intervalos que temos são para as tarefas pendentes que parece uma lista interminável. todos os outros fugimos para a rua para eles correrem e nós pormos a fronha ao sol, as vezes levamos os auriculares de quem ainda está ligado a uma reunião outras vamos só assim e temos a sorte de encontrar os vizinhos com quem trocamos todos os dedos de conversa possiveis.

à 13h almoçamos. as 14h recomeçam as aulas deles e as 14h30 as nossas reuniões. é dificil ter tempo durante o dia para trabalho super focado, as vezes fugimos para o anexo à procura de paz. nas reuniões temos todos de ter tolerancia de aceitar que se repita e se perguntem muitas vezes coisas que possam ter escapado, estamos todos no mesmo barco. as vezes temos reuniões com bebés ao colo e outras pomos babyshark de fundo para conseguir resolver tudo o que parece mais que urgente.

manel já está quase autonomo no estudo mas sempre que pode faz a despachar para ir para a rua. lançou uma empresa com os amigos da quinta e vendem tudo e um par de boras. hortelã, nesperas e limões estão no top. ele é o socio gerente, distribui lucros e planeia crescimento do negócio e por isso não tem tempo a perder no que toca a estudar e arrumar os livros.
zé maria senta-se com cada um a fazer fichas sempre que temos tempo e ele tem capacidade de concentração. de tão pouco tempo que sobrou nos primeiros dias a motricidade de pegar no lápis desafinou e temos dado de tudo para recuperar isso. faz terapias por computador e tá a ficar pró em ditongos e algumas palavras. adora as terapias e não é preciso muito para estar em frente ao PC, tem duas horas por semana com o professor da escola e 1 com a Susana. 
a impressora tem dado luta entre tinteiros que nunca mais chegavam e outros que chegaram estragados mas sempre que falha pedimos ao super gonçalo e ele traz com muita alegria o que nos deixa sempre contentes por tanto que temos mesmo quando alguma coisa falha.

xavier cabe quando couber entre as calls dos manos. tá farto de ver os amigos pelo ecrã e prefere afinal as técnicas de bina e apanha de bichos da conta. parece-me a escola de vida ideal para o momento.

o martim começou muito torto com as sestas completamente trocadas e embaralhadas mas com a ajuda da Mafalda Navarro descobrimos problemas e resolvemos somos perdidos. pelo caminho foram precisas noites de berros e idas para o parque às 4 da manhã para perceber horários. 58 dias depois continua torto de feitio mas todos mais orientados. tá numa fase deliciosa e mesmo quando pinta a manta é irresistível o que se torna um problema para todos, para a vida toda.é um privilégio pensar que temos mais tempo para aproveitar tudo isto.

acabamos o dia lá para as 18h00, às vezes mais outras menos. podem sempre cair emails depois. a tanica tem aulas depois disso e à segunda feira até as 10h.
tantas horas de reunião depois acabo sem vontade de falar ao telefone com mais ninguém o que tem coisas boas e más. tenho saudades de amigas queridas a quem tento não falhar durante o dia, antes da pilha acabar e sempre que a reunião deixar.

os vizinhos são uma grande ponte de sanidade neste caminho. isso e jogos, e projectos que arranjamos dentro de casa e com cada um. andar para bem longe quando parece que ficamos presos e ver séries para chorar quando fica frio à noite.
recebemos visitas à distancia dos tios. do avô zé foi sempre muito difícil evitar abraços e por isso mantivemos quase sempre, estando nós todos isolados. avô tonas fechou-se em casa e na primeira vez que saiu veio cá jantar na varanda, não houve contacto mas houve muita emoção. trouxe consigo o cão que arranjou nesta quarentena e foi bom poder misturar mais um jack no meio disto tudo. ainda estamos a tentar descobrir como encaixar avô miguel neste nosso modo de vida.

há duas semanas fugimos pela noitinha para troia ter com o avô zé. fomos de uma casa para outra sem perigo de contaminações pelo caminho, sabendo que nunca poderemos evitar tudo. souberam muito bem os caminhos sem fim, os mergulhos no mar e toda a magia de um por de sol. soube quase tão bem ver os vizinhos virem à janela dizer adeus, que iam ter saudades, e desejar a melhor das sortes para não sermos parados no proibido. foram 4 dias e é bom saber que na vizinhança, ainda que por tão pouco tempo, fazemos falta. somos parte da vida um dos outros e essa tem sido sem duvida uma das coisas boas desta quarentena. se na vida normal só arranjamos tempo entre tempos de cada um agora é a mesma coisas mas todos os tempos são mais nossos e tem sido bom fazer este caminho com os vizinhos que são família.

uma vez ou outra, ao fim de semana, juntamos todos e fazemos mini festa que começa sempre com distanciamento social e não vos digo como acaba. o que precisam todos de saber é que estamos todos com cuidado e a tomar conta da alegria e emoções uns dos outros.

escrevi já varias vezes sobre rotinas de fases da vida, não queria deixar de escrever sobre esta para futuro ver. foi longo como o confinamento obriga. e sobre as grandes lições deixo os prognósticos para o fim do jogo.
texto escrito com linha de raciocinio interrompida 100x vezes, é um novo genero de acordo ortografico criado para quem está em televida com 4 crianças, uma cadela e uma casa para gerir e alegrar.

Sem comentários:

Enviar um comentário