2/26/2017

Kit sobrevivência para fins de semana alone com os bichos. E desvaneios de solidão

Bolas de natal, coelhos mal cheirosos e pensos por nada. Kit sobrevivência para fins de semana alone com os bichos.

Esta coisa de sermos pais faz sem dúvida mais sentido aos pares. Só com um faz-se mas não é a mesma coisa, não têm tanta graça as gracinhas deles, muito menos as birras.
Dividir a vida é bom para eles mas essencialmente para nós. Percebo que a vida às vezes se desoriente mas, em podendo, devia ser a dois.

Sou filha de pais separados e tou aqui vivinha da silva e até (na maior parte dos dias estavel), não me faltou nem mãe nem pai e até tive (deste último) a dobrar. Mas na prespectiva dos pais isto além de ser cansativo a solo é muito mais gratificante a dois. Deve ser por isso que (normalmente) são preciso dois para os fazer.

Às criancas as relações dos pais ensinam muito, mesmo quando ha pouco a aprender. As coisas boas do amor, as loucuras da (falta de) paciência, a intimidade, as partilhas, as desculpas, as cedência e um conjunto que , à partida, devia ser melhor do que as partes. Tudo isso é ensinar a viver, e no fundo é a base de tudo: a base de como amamos.

Dito isto a coisa daqui para a frente pode dar em mais viagens do joka e mais disto a solo para mim.

[Margarida cunhada, farei uma estatua em tua honra a quem pedirei paciência na falta dela. Andas há 8 anos nessa vida, es um exemplo de perfeição imperfeita.]

E de resto é usar mais das tecnologias para nos aproximar, que pra distância já temos de sobra.

Boa semana malta

2/21/2017

Pilhas e pilhas de roupa a acumular de uma forma quase poética


Para quem (como eu) achava que a saga da maquina tinha chegado ao fim- wrong. A história ainda ia a meio.
Depois de um mês de espera a linda e bela maquina, tão ansiada, chegou. Tânia recebeu, gilberto instalou e a lisa ligou. Estava na língua de nossa majestade, uma chiqueza. Avisou-me que de majestade não percebia e esperou por mim para a grande estreia. 
Fui para casa com mais motivação que o habitual só mesmo por saber que lá estava, a salvadora da pátria. Ligo o botão do on, mudo o idioma para PT e com orgulho vi tudo aquilo cheio de LEDs azuis ao meu comando- coisa mai linda. Não sou se seguir instruções mas desta (e dado o investimento chorudo) decidi seguir à risca e a risca dizia para fazer um programa normal com a maquina vazia.

[pausa de silencia: depois de um mês à espera da maquina tudo o que queria era enche-la até as costuras mas tudo bem, eu faço isso de fazer o programa vazio.]

Orgulhosa chamo a lisa para aprender os passos, sigo os LEDs carrego com ar de vitória no "iniciar" e pim: pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim, pim,pim, pim, pim, pim, pim,pim, pim, pim, pim, pim,pim, pim, pim, pim, pim,pim, pim, pim, pim, pim. Um pim sem fim. Primeiro um sentimento de surpresa (o meu Ferrari dá erros?!) , depois um de culpa (fiz tudo mal vamos refazer), depois um de perdão (vamos lá reiniciar o quadro) e finalmente um de raiva atroz que culminou no telefonema para a Whirlpool a pedir uma explicação.
Aparentemente não tinham e até tinha feito a coisa às direitas, para quem nunca segue instruções até fiquei orgulhosa por segundos, depois passou e voltei à raivinha. Prometeram técnico para o dia seguinte, sem nunca termos tréguas do pim do fundo. A lisa nesta fase já tava com vontade de rir, mal sabia o quanto ainda choraríamos.
O técnico não falhou o date e lá esteve. Encontrou um erro fatal e não conseguiu resolver, prometeu - tal qual um cavaleiro andante- que voltaria para resolver. Tal como muitos cavaleiros, nunca voltou e já lá vai mais um mês.

Nem a marca whirlpool, nem a loja Audilar, parecem muito preocupados com a pilha de roupa que acumula. São as de todos os dias, as do chichi na cama, as dos cocós de xavi por fora, as da belém que vomitou, as da farda, as da natação e futebol, as das idas a paris e dos passeios à praia. Cataratas de roupa, poesia de imundice. Horas e horas de tentativas de contacto com as marcas para resolver, e nada. A insanidade ao mais alto nível.  Pilhas e pilhas que todos os dias crescem e chegam a cair para o lado de altura, um fenómeno lindo de observar. Temos resolvido mal e porcamente aqui e ali em casa dos avós mal-amados ou no sr da lavandaria selfservice "novo melhor amigo do joka".

Tem sido a dança das danças, a loucura em cuecas e caos que vai nu. Se calhar ainda nos rimos disto um dia, muitas duvidas que seja possível mas pode acontecer.


Esta comédia trágico-dramática tem fim aparente a dia 24 ou 25. 

tentaremos não perder o juízo até lá. alguém desse 
lado com histórias parecidas?



2/20/2017

zé boleias ou as boleias da tua vida

a rotina mantém-se mais ou menos a que era o ano passado: escola todos os dias e duas manhãs fora em terapia. a terapia da tua vida. a que permite que chegues mais longe e que a nós nos balança em quilómetros de organização.

a maior parte das vezes é assegurada pela minha mãe, a avó rita. O joão deixa-o às 9h30, a avó rita passa a buscar ao 12h e deixa-o na escola a almoçar e seguir o resto do dia com os amigos. a super avó rita.

acontece que a excepção faz a regra e aqui não é diferente. há dias em que a avó está fora, ou que a Ana tá doente e não pode a primeira hora e outras mil combinações de excepções. nesses dias o que fazemos é pedir ajuda aos tios, à mana ou aos outros avós.

custa a primeira vez que o fazemos, porque sabemos que tal como nós eles têm a vida deles. mas depois arriscas a primeira vez em que para ti é mesmo impossível e não queres mesmo que ele falte e a magia acontece. o zé magia abraça cada boleia com a alegria de uma vida e até acredito que melhore em gramas o dia de quem lhe dá boleia. 

nas vidas que temos e que nunca ninguém faz kms por ninguém (já se queixava o marco do bigbrother há 17 anos aqui - não resisti à patetada), ou achamos que não mas a verdade é que fazem, faz o tio nuno, faz o tio manel, faz a avó, faz o avô, faz a mana, faz o bernardo, faz a tia rosarinho e fazem todos a quem tenho pedido. às tantas achamos que não fariam e nem chegamos a pedir e por isso hoje em dia não tenho vergonha de pedir e se não puderem não faz mal, arranjamos outra solução. a minha vida e a deles faz muito mais sentido partilhada e partilhar a vida não se faz só de gargalhadas nas jantaradas, faz-se também de favores destes, de ajudar no dia a dia que aliviam em toneladas tudo o que tantas vezes sentimos não conseguir sozinhos.

a semana passada surgiu uma das excepções e pedi ajuda ao meu pai, avô tonas. ele nunca lá tinha ido e seguiu as orientações com um sms bruto de morada a seco. foi buscar o zé a nossa casa, levou-o pela mão e ficou surpreendido por toda a gente naquele bairro o conhecer, depois chegou à Célia e derreteu-se quando ela lhe perguntou, muito séria e convicta, se ele sabia a importância que tinha na vida do zé? Ele meio desorientado disse que achava que tinha alguma (talvez pequena fosse a que achasse mesmo na verdade). Mesmo sem o deixar pensar muito remata com um: muita; imensa. e reforçou que era importante que ele soubesse disso. 

e tem, imensa. nele e na dos outros na verdade. este avô e todas as outras "boleias" que mudam as suas vidas para dar um bocado à dele, à nossa.

Se estão desse lado e precisarem de uma mão não façam cerimónia em pedir a nossa vida é melhor se pudermos ajudar (por email, fb, mensagem ou telefone estamos deste lado). isso e um muitíssimo obrigado a todos os que fazem parte da nossa e quase sem termos de pedir dizem que sim de todo o coração.

Obrigada. you rock


à espera da boleia de hoje, uma ida de avô tonas e uma volta de tio nuno

2/19/2017

e de tudo o que se passa para lá das fotos



a lili não ia ficar mas ficou. todas as sextas olha extasiada para nós cheios de programas, todas as sextas lhe prometo que um dia vem connosco. Esta semana precisavamos de parar mas não fui capaz de adiar e apesar de tudo ela não chateou.

viver com mais uma miúda tem as suas cenas, claramente não estamos habituados. O tom parece sempre meio estridente, as trocas de roupa constantes a meio do dia, o manel a reclamar que ela não pára de lhe dar beijinhos e sempre indignado porque ela deixou de lhe falar pela quinquagésima vez, sem ele saber bem porquê. 
mas também dá direito a tranças, mimo e mais paciência para os minis.

não sei se algum dia vou/vamos querer ter mais filhos. não sei qual é o numero a partir do qual deixamos de lhes dar o tempo que eles precisam, ou que deixamos de ter o tempo necessário à sanidade mental. essa equação marada da vida que as vezes descamba em rabugice.

não sei se termos mais sei que estes já mais que suficientes, o resto a vida dirá.

fim de semana só de estar. e de tudo o que se passa para lá das fotos.


















2/01/2017

Bom ao quadrado ou babies da lisa a caminho

Quarta feira depois do seu grande dia aparece em nervos com uma grande notícia, saltamos as duas de alegria.

Um mês depois saltou o João quando ela lhe contou, saidinha da eco, que eram dois. Que grande alegria.

Depois de trazermos juntas a sua Lili e de ter casado exactamente como queria, esta era, e está a ser, a cereja no topo do bolo. Vai ser caos e não sei bem como nos vamos organizar, mas é incrível e estamos muito fellizes por ver a sua família crescer. Essa que também é um bocadinho nossa.

Parabéns lisinha. Que venham cheios de saúde e energia para nos virar a casa só avesso.

1/27/2017

A vida é uma máquina de lavar a roupa

Quando compras uma máquina de lavar a roupa, tudo corre bem durante uns tempo. Aquilo anda à volta, faz pouco barulho, a roupa sai de lá limpinha e agradeces à tecnologia que não precisas dum tanque, dum sabão azul e força de braços. Como na vida, as coisas vão correndo e funcionando assim como se vai acertando numa monótona mas saudável rotina.

Passado uns anos, entope uma vez ou outra, faz um bocadinho de barulho, mas carregas nuns botões e mexes nuns fios e aquilo volta ao normal e sentes-te muito macho porque arranjaste cenas e sentes que tudo dependo do teu trabalho intenso. Como na vida, vão acontecendo alguns percalços, mas com uma discussão ou outra, uma ideia ou iniciativa e resolves os berbicachos do dia a dia.

Depois, há um certo dia, em que a máquina começa a avisar que nada está bem. Um erro F18, depois um F19, a porta que bloqueia, uma inundação na cozinha, e dás por ti deitado numa poça em casa, a pedir um rim novo e a ficares com a mão presa no filtro que nem sabias onde estava. Pedes ajuda profissional porque já não consegues fingir que sabes arranjar a coisa, só que custa o preço duma máquina nova e não te garantem que fica a funcionar. Como na vida, nada corre como planeado e quando pensas que já passaste por tudo, lá vem mais um problema e que vais precisar de ajuda profissional para resolver.

A vida é assim, resolves e andas para a frente, apanhas as pedras e fazes um castelo como diz o outro.

O problema desses poetas é que não tinham 6 pessoas de caganeira na mesma casa, roupa de uma semana por lavar, uma cadela que larga mais pelo do que tem, o que é impossível mas acontece, e uma mistura de necessidades humanas divididas por 6 pessoas todas diferentes e com feitios diferentes e reivindicações diferentes e coisas que te fazem querer fugir e voltar uma semana depois. Uns acordam às 6, outros as 7 e outros às 8. Uns têm fralda, outros não têm mas deviam ter. Uns escolhem roupa outros estão a roubar comida. Uma epopeia romântica mas dantesca que é a vida familiar.

Foi então que descobri as lavandarias automáticas. Tem wi-fi gratuito, conversa de bairro que tanto gosto, café ao lado, uma mesa para trabalhar, e uma paz que poucas pessoas percebem. Como na vida, há que saber que algumas vezes, em vez de enfrentar um problema, tem que arranjar uma razão para ir dar uma volta e arejar.

As pessoas pensam que os electrodomésticas são maquinas impessoais, mas se olharmos bem são lições de vida. E neste momento a minha vida é uma máquina de lavar a roupa.

1/25/2017

tão natural como a sua sede ou só o melhor da vida

Há coisas que a natureza não explica: explicam-se pela natureza (da coisa). A Tânia connosco é isso mesmo.

Quando digo que tenho uma filha de 21 o lado de lá tipicamente baralha-se. Quando tem coragem, devolve com a pergunta da minha idade e eu, não vou de modas, e respondo de volta os meus 33. Se ficarmos juntos segundos depois disso, veremos uma expressão de alguém com um nó no cérebro a tentar decifrar onde se enganou na conta. E eu sorridente, dependendo do dia, olho com ar de quem lê mentes: outros tempos, idades loucas - e abandono a cena divertida.

Se foram outros tempos eu não sei, e até gostava que tivessem sido todos meus, a verdade é que a loucura da vida foi quem nos juntou e à qual não tirava nadinha. A minha tanica é minha e hoje já ninguém de fora consegue imaginar, sem contas de cor, que ela não nasceu de mim. Até somos parecidas, dizem por aí e eu toda orgulhosa.

Mas sobre isto até já tinha escrito. O que não digo, e devia dizer mais vezes, é o papelão que têm eles irmãos na vida uns dos outros.
Ainda que com idades diferentes eles são referências uns para os outros, exactamente como devia ser. E procuram uns nos outros o que vão precisando (e o que são): calma, descargas, mimos, gostos e crescimento. E eu babo-me de ver.


tem de ser isto o melhor da vida, tem de pelo menos fazer parte da lista dos top.

E as cenas são infinitas, diárias e irrepetiveis: são deliciosas. 

O manel e a tanica que saem para ir os dois de metro às amoreiras. vão delirantes de mão dada e voltam com uma alegria que quem fez tudo o que queria.

O chá de scones e grandes conversas em que apanho a tanica e o zé, no domingo de manhã, com os restos do lanche do dia anterior.

Quando o xavier berra e o manel ao lado diz calma e docemente "não chora xavi, se não quer que a mãe tira a roupa diz à mãe e ela não tira.", e ele cala-se a olhar derretido para ele.

Deixar o zé e o xavier na banheira a ouvir musica e apanha-los segundos depois a dançar.

Pedir à tanica que olhe por um deles, e ela não só faz isso, como em segundos já pendurou um papel de cenário em qualquer lado e estão a fazer pinturas.

O manel que madruga e vai em pés de algodão acordar o zé para descerem juntos ver desenhos animados.

e ficava aqui a noite toda.... 


1/18/2017

ele não chora, berra

A história é simples: ele não chora, berra.

Não sei como nem porquê, não percebo o que quer e não acho que o trate de maneira diferente: mas ele teima em não me poupar aos berros. Quer colo, e manha e nem sequer é simpático para que lhe dê isso tudo. Estimulo que a que dê beijinhos, a que diga obrigada, adeus e tudo mais: mas ele nada.

Ponho-me a pensar e a única coisa de mais diferente que possa ter feito foi tê-lo largado mais vezes para sair com os outros 3: será disso? Uma mãe sente culpa de todas as coisas más que acontecem na vida deles, mesmo que seja uma culpa irracional. A verdade é que o larguei mais vezes, mas não podemos dizer ainda assim que tenha sido em exagero: ou terá sido? Fico confusa, e até baralhada, ao fim de um dia caótico como o de hoje em que até a dormir ele precisa de precisar de mim: até a dormir. O joka não está, por uma questão de sobrevivência deitei-o comigo, e ele de duas em duas horas, ainda que deitado mesmo ao meu lado, estica a mão para sentir que estou ali. Da primeira até achei querido, mas quando devolvo de volta o gesto e lhe dou a mão: afasta-me, nem quer saber de mimo.


O mundo não vê nada disto e a malta amiga que me vê tantas vezes com ele ao colo e até com ar querido e paciente (como os de amor inesgotável), dizem-me: "vê logo que ele é o preferido". É de loucos, mas ao mesmo tempo descansa-me passar a imagem de tanto amor, sendo que tantas vezes tudo o que me apetece é deita-lo pela janela.

1/16/2017

Filhos internados ou bebes no hospital, devia ser proibido

Fui hoje almoçar com uma amiga que tem o filho bebé internado no hospital - dureza.
A vida quando temos alguém no hospital piora exponencialmente, mais ainda um filho.
 
Só nos aconteceu uma vez há três anos. Depois do natal e  na vespera de um casamento decidi levar o zé à urgência,  estava meio ranhoso, e ia deixar-lo com a minha mãe queria confirmar que não deixava uma bomba relógio. Supresa das surpresas quando me disseram que tava com uma bronquiolite, oxigénio em baixo e tinha de ali ficar. Raios, não achei que tivesse assim tão mal - não tava, acreditei. Um ano e meio e está claro ficamos os dois, não o largaria por nada (mesmo que tivesse 21). A coisa não era grave e eu sismei que era pura birra da malta do hospital,  ele tava fixe -para mim estão sempre, mas segui as regras e la ficamos entre bombadas de ventilan r oxigénio. Dormia lá depois ficava uma manhã ou uma tarde e o João revesava; No trabalho foram impecáveis e disseram-me que tirasse o tempo que precisasse, não estava psicologicamente preparada para por um outof office por tempo inderterminado, decidi não por e passar por lá duas horas por dia a despachar o essencial. Acho que decidi isso também para manter a sanidade, ainda que sem saber bem. Ele estava bem, ranhoso, mas bem.
Já eu, claramente não sabia lidar bem com aquilo e tinha postura de cão de guarda, não deixava que lhe fizessem nada sem eu ver e refutava todos os problemas que eles identificavam - a loucura da mãe. Nunca foi muito grave, nunca tive muito preocupada - tivemos muita sorte.
 
Passados 6 dias voltou para casa e nunca mais aconteceu com nenhum. Temos muita sorte.
 
Hoje fui visitar a minha amiga e sabendo o duro que foi para mim uma coisa tão basica como uma porcaria duma bronquiolite, passei o dia a pensar no duro que será para ela cujo filho está um bocadinho pior. Eles são rijos e dão a volta muito melhor que nós, mas até la é dureza.
 
Se houvesse alguma maneira de aliviar isso seria tão bom. Não há. Por isso, até que saia de lá, temos almoço marcado uma vez por semana. Não vai resolver mas estamos juntas.
 
A todos os pais com filhos internados, um beijo deste lado.
 

1/11/2017

Como começar a escrever tudo sem que seja confuso?





Como começar a escrever tudo sem que seja confuso? Não sei, até eu estou muito confusa...confusa na medida em que as pessoas que fazem verdadeiramente voluntariado falam sempre da situação de nos prepararmos bem psicologicamente porque depois a dita aterragem é difícil, é sempre, eu sei, mas cada um reage de forma diferente e por mais que se faça várias vezes, essa aterragem vai sempre ser diferente. Por isso não sei como me preparar, nunca soube, mas o que faço e tento muito, é ir com noção de que independentemente de tudo, vou dar e dar, vou facilitar o que está a complicar, vou estar só.
E foi o que tentei fazer nestas férias de família em salamanca, onde estivemos a viver em familia, que em vez de 6, fomos o dobro ou o triplo. Desses, dos dobro ou triplo, vi muitos e dei-me, entreguei-me a todos, mas houve um que me entreguei naturalmente, chama-se Sebas.
Lembro-me que ao prncipio tentava comunicar e meter-me com o sebas, mas eu passava-lhe ao lado e só pensava, "este sacana que tanto quero conhecer, nem olha para mim", depois lá me foi falando, disse-lhe que gostava do Barcelona, riu-se e foi-se embora. Nem sei quem são os jogadores mas, por ele passei a saber, e ainda vi jogos com ele mais tarde, vi jogadores, aprendi e assim estava mais próxima dele. Fiquei mesmo muito feliz porque sentia que estava a dar de mim, mas a receber bem mais, só de lembrar do riso de felicidade e espontaneo do sebas, já só quero voltar.
O sebas tem 14 anos e não gosta de confusões, pelo que entendi tem asperger, mas não me quis muito focar nisso porque antes da doença, é uma criança com as suas manias, os seus medos e as felicidades. Quis conhecer o sebas , não gosta nada de ir, por exemplo, ao cinema porque é muito confuso para ele e pessoas novas, não gosta e sente-se perdido. Houve um dia do teatro para todos que os meus pais ofereceram, o sebas disse logo que não ia, mas a Rita disse-lhe que caso ele  uisesse vir embora que vinha com a Pati (uma monitora), lá entrou, sentei-me ao lado dele caso  osse preciso alguma coisa e pudesse transmitir-lhe que estava tudo bem, aguentou meia hora e disse-me que queria sair dali, disse-lhe claro e que ia dizer à Pati, mas ele pediu-me que fosse eu com ele, então fui eu. Fomos lá para fora e os dois calados, não sabia o que fazer, se falar, ele podia estar muito stressado e isso ia piorar, se ficarmos no silêncio, até a mim a situação estava a stressar e a ele podia transmitir-lhe insegurança, decidi que ia falar pouco e dizer coisas que o fizessem distrair. Para não falar de todo o tema espanhol português, sim porque o meu espanhol é português, talvez nem chegue a portunhol. Assim que abri a boca, começa o sebas a falar e não se cala, só me ria, nervos à mistura com felicidade de ele estar bem, falei-lhe da lua, ele fala-me de todas as bandeiras com uma lua e estrelas e no meio destes ensinamentos "cravou-me" duas que ele tanto queria, disse-lhe que sim, ia fazer os possíveis. Naquele momento só queria continuar a ver a felicidade e o bem-estar dele, só isso.

E assim a nossa relação se foi construindo e ele aos poucos deixava-me fazer parte do dia-a-dia dele, como eu fazia questão que ele fizesse parte do meu.

Joguei à bola uma manhã inteira com o sebas e o zé Maria, eu e o zé contra ele, coitada de mim e do zé que ou só fugiamos da bola e lá era golo - eu já só olhava para a cozinha a pensar quando é que alguém nos chama para o almoço que eu já não aguento estas corridas de lá e pra cá-, segundos com a bola nos pés, uma hora atrás do sebas, a outra alternativa também foi pôr
o zé à baliza, defendeu algumas coitado, outras o sebas continha-se e assim dava para eu recuperar, lá acabou e mais uma vez estava o sebas feliz e se ele estava eu tava pelos dois.


Já aterrei, mas ainda me lembro muito no meu dia-a-dia do sebas, faz-me falta poder cuidar de alguém que não pede, mas que precisa; faz-me falta ter pessoas à minha volta como o sebas que me transmitam que sou capaz de dar, basta saber estar; Faz-me falta o sebas só porque sei que ele vai estar ali, feliz eu sei, mas queria ter deixado ainda mais de mim.


escrito por tanica mas carregado por sua mãe

1/08/2017

sobre o que fica

chega-se e todos querem saber como foi, nós próprios tentamos resumir a cena na cabeça para arrumar ideias e seguir. Acontece sempre que se faz uma grande viagem, uma grande aventura. Assim é, tem sido.

e como foi?
Foi como esperado, e melhor. Foi chegar e viver com os que lá vivem, da maneira que vivem, e conhecermo-nos melhor. Eles mais pequenos chegam primeiro aos outros mais pequenos e nós

seguimos - o xavier nunca chegou muito lá na verdade. é dos berros, não foi grande espingarda nos afetos. Conhecemos cada um, vamos sabendo das duras histórias que os levam ali e nasce uma espécie de amor e sentido de provecção por cada um. não é a primeira vez que damos conta destas realidades de crianças em risco (abusadas de várias maneiras, não obrigatoriamente sexuais), a diferença desta vez foi que partilhamos vida com eles. tomamos pequeno almoço de pijama juntos, partilhamos tarefas diárias da casa, discussões, aproximações, jogos de mesa, castigos de canto, filmes de manta, videos de youtube, as casas de banho, os guardanapos de pano (que já sabíamos de cor), garrafas de fim de ano, embrulho de presentes de reis, caça ao caramelo e tanto mais.

e no fim de tudo como se resume? resume-se a cada um, ao que fomos e ao que trazemos de cada um e que fica para sempre nosso.

Ascen- uma tranquilidade e beleza parece fazer esquecer o caos. Não entra à primeira mas quando se aproxima quer conhecer-te bem. Apaixonada pelo zé, acabou correspondido.

Sandra P.- Morenita de olhos verdes incríveis, tem personalidade bem vincada mas derrete com qualquer mendigo de rua. Agradecida pelo que lhe dão e orgulhosa do que traz. Pede zumba logo pela manhã.

Stephi - Meiga até à ultima casa e com uma vontade incrível de agradar e de os agarrar. Eles não estavam nem aí mas ela não desistia de os querer apertar e mimar. Primeira voluntária em todas as tarefas e pede de tudo para depois dar aos outros. Guapa e guapissima/o faziam parte de todas as suas frases e comentárias. Coisa querida esta miúda.

Verónika - Tanto brinca com bonecas quanto se pinta de crescida para o reveillon. tem um sorriso meigo e chorava na noite que agradecíamos termo-nos conhecida. é doce de coração mas ve-se bem que tem muito amor ainda a haver. querida verónica vais ter tempo de crescer, e vais crescer bem.

Sandra C- a mais pequena das meninas, que usa totós e gosta de ténis com ródinhas. maria rapaz que quer ser mais rapariga mas não sabe se tem coragem. Furacão de emoções quando em stress e torcidita para chamar a atenção. Foi grande amiga do manel e pediu sempre que pode e em voz alta que voltássemos, nem que seja só por isso voltaremos. (é difícil a quem já perdeu tanto na vida pedir a alguém que volte sabendo que podem dizer que não).

Borja- Menino homem que foi largado à porta de casa das irmãs com 1 ano. tem asperger mas isso não importa nada, as pancadas e rotinas dele trazem tranqilidade aos outros e isso é tão bom de se ver. não tem fritanços mas também se assusta com multidões e num dos dias que foram passear ao centro comercial todos juntos fugiu da multidão. 30/45 minutos de panico de todos e uma task force incrível entre miúdos para encontrar o querido Borja. Dormem todos melhor com ele por perto e disso não há dúvidas.

Weslin- Sorriso de parar o transito e estatura de homenzão. Pareceu-nos a nós supertranquilo e na paz, as irmãs dizem que não, pode ser que esteja a mudar. Tivemos muito pouco com ele deu ara conhecer pouco mas conquistou desde logo o difícil Xavier. no fim da passagem dos reis agradeceu às irmãs tanto presente, disse que sabia não merecer tanto -não me vou esquecer tão cedo, pode ser que esteja mesmo a mudar.

Sebas - Escolheu a tania como preferida, percebo bem, eu também a escolheria all over again. Obcecado com bandeiras de países, adora mostrar e perguntar-te se sabes de onde é. tem 32 na sua coleção que estende em cima da cama e muda diáriamente por ordem alfabética. Vê-se que é um miúdo marcada pela vida dura e passado. custa-lhe multidões e grande confusões, agarrou-se à Tanica nesses momentos e sempre que pode. (se tiverem bandeiras em pano de qualquer país do mundo, apitem e fazemos-lhe chegar).

Luis- o mini da casa o maxi a mandar naquilo tudo. é o baby com tudo o que tem direito: birras e meiguice. Gosta de ver desenhos animados ao colo e mais de jogos de tabuleiro do que de balizas. Ficou delirante de partilhar cama e quarto com eles e foram só precisos 10 minutos para se tornar intimo do manel e zé. não me vou esquecer nunca da sua voz doce a atender o telefone à mãe e dizer em voz doce e mole que tinha estado de manha a rezar por ela na missa. 7 anos de miúda vida e muita mais e melhor ainda por viver.

Sobre as irmãs a dança é outra, um nível que ambiciono também para o meu papel de mãe, amiga e até mulher:
Irene - Responsável pela casa mesmo que não lhe tivessem dado esse cargo, é matriarca natural. Culpa de tudo e solução para tudo como todas as que estão nessa posição. Sentido de humor apurado e tranquilidade do conhecer e saber o que deve ser para cada um.

Rosa - a minha homônima e avó de todos. dedicada à cozinha onde punha amor e paciência em tudo o que fazia. perguntei-lhe se sempre quis ser irmã disse-me com a maior simplicidade que sim, que adorou os 72 anos da vida que teve até agora e não parece cansada disto, antes pelo contrário.

Carmen - Querida e sorridente foi a que conhecemos menos porque foi a barcelona a uma reunião que demorou alguns dias. Estávamos lá há menos de dois dias mas antes de sair fez questão de me oferecer todo o seu armário de casacos, se fossem necessários. muito querida e doce - curioso, realizo que tenho esse sentimento de tantos que lá estavam.

Rita/ritinha - a minha doce amiga com quem tinha estado tão pouco tempo na vida mas me tinha dito tanto. e confirmou tudo e muito mais. daquelas pessoas que quando ri, ri com o coração. transporta as alegrias de todos e está sempre atenta a tudo o que se possa passar ou fazer para melhorar vidas. tem gargalhada fácil e bem alta, braços grandes e compridos para abraços únicos e um sentido de despacho ao nível de super heróis. humildade de sentimentos mas grandeza de emoções. adorei estar contigo (mais tempo que nunca) e que os meus te conhecessem de perto. que continuemos sempre assim por perto uma da outra.

e se me perguntarem como foi, foi isto. coração quente 10 dias, ainda que com temperaturas negativas do lado de fora.

Obrigada queridos amigos espanhóis por nos receberem em casa e nos darem mundo.

1/05/2017

Incrível ou não?!

Fomos comprar bilhetes para o teatro. A Rita queria ensinar uma das miúdas a fazê-lo e por isso ela conduziu a conversa. Perguntou idades mínimas, descontos de grupos, lugares e preço, tudo certinho. Demos-lhe o dinheiro e sobrava um euro de troco, recolheu os bilhetes e o talão e devolveu o troco. Dei-lhe de volta o euro, chamei-lhe taxa de serviço e ela agradeceu. Dez passos à frente havia um mendigo na rua, ela não pensou duas vezes e deu-lhe.

Stop na historia e, como nos filmes, voltamos a 1 hora antes.
Decidimos que íamos convidar a criançada a ir ao teatro, não é um programa habitual e em vez de os enchermos de presentes que não sabemos se gostariam, daríamos experiencias de vida. Ideia validada e toca a comprar bilhetes. Enfiamos-nos as três no carro em busca da bilheteira perdida - por alguma razão divina a rita não encontrava o raio do sitio onde os bilhetes estavam à venda e no meu telefone só me apareciam resultados do brasil quando procuravas patrulha canina salamanca. Voltas e mais voltas e vamos pondo a conversa em dia. A sandra (15) não percebe português e eu tenho um espanhol que coitadinho por isso basicamente falava em português com a rita e nos intervalos íamos dando uns toques à Sandra sobre cenas da vida, telemóvel uma delas como é na vida de todos os jovens. Aparentemente está sem saldo e não pode ligar ao namorado, so aceitar chamadas, tem a semanada em atraso mas ta visto que mesmo que a tivesse em dia não chegaria, precisava de mais 5 euros. Ela não reclama com isso, sabe as regras estavamos só mesmo a conversar.

Nos entretantos em português a rita perguntava-me de onde vinha o meu gosto por causas sociais, se era de nascença ou não e como achava eu que se incutia aos nossos. Disse-me que o ano anterior tinha sugerido algumas acções de voluntariado às mais velhas mas ao mesmo tempo não queria impor. Afinal elas já moram com irmãs, numa instituição e usam roupa doada, chega de razões para exclusão social. A minha opinião e que se deve deixar a sementinha disto e do resto e cresce o que tiver força e os fizer felizes. Discutíamos isto e aquilo e finalmente chegamos à bilheteira.

Voltamos ao princípio e foi mágico. Depois da conversa e, quando a vemos afastar-se para se aproximar do mendigo,  olhamos uma para a outra e rimos. Grande gesto Sandrinha.

De volta à carrinha ligamos a outros dois que podiam precisar de boleia para casa e, sendo que estamos na rua, toca a saber. Outros dois entram, dois segundos depois a Ascem (14) vê da janela um sem abrigo e reclama que lhe custa ver gente a pedir nesta altura do ano com tanto frio, continuou e disse que devíamos sair à rua e dar comida a estas pessoas, a Sandra reforca ainda com um "e conertores". [Dois - zero em em menos de 15 minutos.]
Mais um sorriso entre nós e a promessa de tentar cumprir esta ideia.

Amanhã de manhã é o dia. Saímos à rua e vamos dar um lanche feito por elas às pessoas que encontrarmos na rua. 

Incrível ou não?!

1/03/2017

As primeias linhas de Salamanca

A ideia era ir escrevendo e descrevendo os dias para 1) mais tarde lermos e revivermos 2) partilhar convosco esta experiência; a realidade é que a experiência exige que digiras ambiente para que consigas escrever uma frase com sentido. Não sei se já cheguei a esse ponto mas vou tentar.

Estamos numa instituição onde vivem miúdos que foram retirados à família por estarem em situação de risco - seja ele qual for. Vivem cá 9 miúdos dos 7 aos 15, 3 rapazes e 6 raparigas. Alguns deles vão passar férias às famílias - a primeira das coisas que a mim me custa a digerir, se têm famílias capazes porque não tratam deles o resto do ano?! - outros ficam aqui, os três mais novos costumam ficar.

[As situações que trazem estas crianças até aqui é de tudo o mais difícil de digerir; partimos a cabeça a pensar como podemos compensar tudo isto e damos o melhor. Talvez nunca possamos mas amor vale sempre e são capazes de vir a ser bons e felizes, com tudo o que merecem na vida]

A casa ajusta-se para nos encaixarmos e dormimos todos juntos. Eu, o João e o xavier dormimos no quarto das irmãs (quarto de vigia da casa), a tanica, o manel e o zé dormem no quarto com o Luis. Dois colchões corridos no chão para os mais novos e a cama para a tanica crescida. Manel dormiu pela primeira vez em saco de cama e tem sido o delírio, tudo para ele é aventura e está a amar estar por cá. O luis é mais velho um ano e dão-se lindamente, entre o português e o espanhol brincam de tudo e com tudo. São a alegria um do outro. Das mais velhas tembém, brincam todos com todos. Nem o manel, nem o zé, nem o xavier estão como voluntários, eles estão  a ser o que são e como são e partilham isso com os de cá da forma mais saudável que a vida tem. Não perguntam porque estão aqui, ou porque é que é assim ou assado, entram no esquema e tudo o que querem estes dias é ser parte disto que aqui há. Para os de cá recebe-los com orgulho é ótimo, mostrar-lhes o que é deles e tudo o que foram conquistando. Ver que os nossos querem ter aquilo que eles têm. Sem saberem estão a ajudar-se a crescer.

De manhã o manel e o zé descem com o luis à caça do pequeno almoço, escadas abaixo e encontram uma irmã de braços abertos para isso tudo. Depois brincam que nem uns doidos até que o resto da casa acorde e todos juntos façamos alguma coisa juntos, estamos de férias é o que as famílias grandes de ferias fazem. Eu, o João e o xavier estamos em cura de sono e temos dormido quase 12 horas por dia. Lá para as 11h estamos listos e prontos para as atividades do dia. O João tem arranjado as bicicletas, a tanica organizado a horta e eu tou de braço direito ao que as irmãs mais precisem no momento. Ultimamente tem sido organizar presentes para a grande chegada dos Reis Magos no dia 6 - dia de receber presentes.

Hoje vamos fazer uma visita a um bairro social. Amanhã vamos todos ao Teatro e por aí adiante vamos vivendo com eles estas férias.

Tenho estado e conversado muito com a minha amiga ritinha. Ela partilha as "angústias"/alegrias de criar nove e eu as minhas de criar quatro. É giro ver que temos os mesmo medos e as mesmas alegrias. Queremos as duas dar-lhes o melhor futuro do mundo e principalmente ferramentas para serem felizes. É giro de ver e de sentir que ela, tal como eu, tem a vida que sonhou ter.

Ser irmã não é nada do que eu achava que seria em conceito. Os doces conventuais e as vidas só a pregar estão muito longe desta realidade delas no dia-a-dia. Mas conto-vos isso um destes dias com mais calma.

E ficam milhões de linhas com histórias por contar, talvez amanhã saiam mais linhas.

12/28/2016

Doidos por chegar a ti- Rita

conheci a rita na faculdade. era uma fixe. eu não ia muito ás aulas (tanica tapa os olhos) e tinha poucos "amigos" de lá mas ela tinha qualquer coisa de mágico, sempre gostei dela.

no verão depois de ter ido fazer voluntariado a moçambique voltei às aulas em setembro e lá a encontrei de sorriso estampado: perguntou-me onde tinha andado, que estava com um ar super feliz. Contei-lhe o que tinha andado a fazer- na era em que não havia nem facebook nem instagram e as pessoas contavam as histórias ao vivo-, ela adorou o esquema. na semana que vinha seria a reunião de lançamento do ano seguinte, disse-lhe, ela ficou entusiasmada, depois disse-lhe que era um movimento católico e torceu o nariz- não era muito dessas cenas. mas arriscou, e quando achei que já tinha desistido, lá estava ela com a filipa - também da faculdade- sentada na primeira fila. foi nesse ano, e penso que no seguinte. no terceiro ficou responsável de todos os voluntários e na visita que fez ao terreno ficou em nossa casa- foi a ultima vez que a vi. já lá vão sete/oito anos.

um ano ou dois depois recebi um email dela a dizer que ia entrar numa congregação, queria ser freira. escreveu linhas e linhas de texto em que o sentimento que passava era o de uma enorme alegria e libertação. fiquei meio surpreendida e quase em choque, tinha passado algum tempo sem saber nada dela- sen dúvida que tinha. Fui ao Facebook  (4 anos depois já havia) ver fotos dela numa de perceber se tinha pirado, se estava bem. Parecia estar incrível, fotos de sorrisoes era o que continuava a aparecer- tal como me lembrava nela. Escrevi-lhe de volta e foi esse o registo entre o dia desse email e os dias de hoje: eu ia sabendo noticias dela à distância e ela minhas, às vezes trocávamos mais emails sobre algumas curiosidades levantadas pelas novidades recentes.

O ano passado quisemos fugir no fim de ano para fazer voluntariado em família, não conseguimos. As possibilidades que encontramos eram muito longe e não tinhamos dinheiro para irmos todos, não queríamos deixar ninguém em terra. Falei com a rita, que vivia na colombia na altura, e ela foi uma das pessoas que me deu alternativas de projectos que adoraríamos fazer, mas longe e por isso caros.

Ela não se esqueceu disso e quando em agosto veio para mais perto, mandou-nos mensagem para a irmos visitar. Férias contadas que nem tarefeiros e não deu para irmos. O bicho ficou.

Amanhã partimos para salamanca, vamos todos ter com ela e dedicar uma semana à causa dela e que tanto queremos conhecer. A fazer a mala percebi que tou mesmo entusiasmada e até entusiasmada de a ver. Fonix quero tanto saber dela, da vida que escolheu e poder estar outra vez ao pé daquele sorrizão.

Ritinha estamos doidos para aí chegar. Cheios de mini sonhos para sonhar convosco.

Até jaaaaa

12/20/2016

O Camões Natalício

O nosso filho Manel tem 6 anos. Tem virtudes que vai buscar a avós ou bisavós porque em nada se aproximam de mim e da Rosa. É arrumado, organizado, disciplinado e tem uma memória de fazer inveja a muitas pessoas. É sempre boa onda, e apesar de muitas vezes ser excessivamente sensível, arranja maneira de ser traquina mas um traquina bem educado.

Apanhei esta pérola espalhada pela casa. Uma carta muito honesta ao pai natal e que vale a pena analisarmos, qual composição de escritor em que forma e conteúdo se unem de forma perfeita.



Original:

Eseta | vola | é | do | Manuel

Pai Natal tás bõe | Eu | tanho | coizas | para | te | izere | ce | eu | sefasfavoure | podes | dare | uma | cadreneta | de | a | Liga | 2016 |2017 | e cromus.

Tradução:

Esta folha é do Manuel

Pai Natal, tás bom? Eu tenho coisas para te dizer, se fazes favor. Podes dar-me uma caderneta da Liga 2016\2017 e cromos?

Análise macro

1) O jovem Manuel tem um sentido apurado de posse e não quer que hajam possíveis enganos. Aquela folha é dele e não há maneira de haver falcatruas ou poder pensar-se que seria outro menino a fazer o pedido

2) Na escola do jovem Manuel, existe um método para separar palavras que se o ajuda a ele, não ajuda ao leitor

3) O Manuel no segundo trimestre deverá melhorar a caligrafia e a ortografia e eventualmente a estrutura de frases, apesar de haver textos do Pessoa ou do Saramago de pior sintaxe ou mesmo que literalmente não fazem sentido ao comum dos mortais

Análise de conteúdo:

1) O Manuel tem uma relação de "tu cá, tu lá" com o pai natal. Parece-me bem. Também é um gajo que responde pouco e não merece um tratamento de "você". 

2) O Manel como manda a boa educação permite a introdução dum diálogo com possível resposta, mostrando interesse real em saber como está de facto o pai natal.

3) Depois o Manel torna-se ligeiramente arrogante e quiçá agressivo. "Tenho coisas para te dizer" é claramente quem tem problemas por resolver e que vai de forma assertiva abordá-los com o pai natal, ficamos a pensar que o tom da carta vai ser negativo.

4) Ao mesmo tempo que parece ameaçar o pai natal, continua a demonstrar boa educação, já que assertivamente avisa que tem coisas para dizer, mas depois pede licença para as dizer. Um pouco ao estilo de Pessoa, parece que, Manel Amado possa padecer de bipolaridade, ainda que esperemos seja só na escrita.

5) Depois de confundir o leitor com um misto de boa educação e avisos inquietantes, Manel remata com a verdadeira razão da carta. Quer uma caderneta. Já o pedido aqui vem muito completo contrariando a falta de pormenor anterior na carta. Agora quer uma caderneta, e tem que ser a da liga 2016\2017. E tem que ter cromos. Não vá o pedido ser pouco especifico e aparecer uma caderneta qualquer em casa e sem cromos.

6) Manel Amado depois de dizer o que quer, pára de escrever. Não sabemos se foi interrompido, se foi preguiçoso ou se ficou sem a boa educação, porque não agradece nem se despede nem assina a carta. Poderia ser redundante se de facto já indicou que a folha era dele, mas ficava-lhe bem. 

Conclusão:

Claramente o escritor tem sentido de posse e sabe bem o que quer e demonstra-o de forma inequívoca e assertiva.Por estas razões certamente receberá o que pede, já que não me parece um pedido descabido e em muito alegra o pai dele, o seu amor por futebol e cromos.

Agora a sério, a vida existe para estas "cartas" existirem. Não há conforto maior cá dentro do que ler isto, sentir uma alegria imensa e ainda pensar que este miúdo tem potencial. Que este post fique eternizado pois muito me alegrou poder escrevê-lo. És o maior Manel Amado!

12/18/2016

Natal partilhado

Como prometido enviaram um email com as características da familia que nos tinha calhado na rifa, e que rifa.
Uma mãe de 33 como eu, um bebe de 8 meses e outra de 6 anos, mais uma sogra e três filhos de 6 anos (da mesma idade da sobrinha), de 18 e 25. Encaixava bem nas idades dos nossos. Tudo entusiasmado.

Uns trataram dos presentes, outros do cabaz e sábado tudo alinhado para os  conhecermos. E foi tão nice.

Tinham bolo e chá para nos receber e em menos de 5 segundos o zé estava à mesa. Um dos presentes era o bingo e deu bingo a hora inteira. Foi so ver saltar números e sorrisos, ja tudo integrado.

Eu e as "donas da casa" conversamos sobre coisas que se conversam com amigos, como vai a vida, o trabalho, as coisas da casa, os filhos e tudo. Acompanhadas de chá do bom.

Agradeceram muito as coisas que levamos e contaram sobre as saudades do natal em s. Tomé. Uma semana antes já anda tudo em rebuliço e as praças cheias de gente, depois dia 24 ficamos todos juntos, comemos e bebemos e conversamos até ser outro dia. No dia 25 - quase sem ter dormido- fazemos o mesmo e é tão nice. Está calor, tudo na rua à mesa.

Aqui podia ser assim mas ta frio e as condições são mais dificies. Mas vai ser bom na mesma, disse ela - concordo eu.

E fizemos mais uma família amiga.

Obrigada Apoio à Vida, foi mágico.


12/14/2016

Há 155 semanas atrás

Esbarrei na fotografia de há 155 semanas atrás, do momento em que chegamos a casa de um jantar e tavas no sofá enrolada no zé a dormir.

Era uma coisa recente a vossa, a nossa nem tanto. Conheço-te desde pequena, e nessa altura perdemos as duas tempo para nos conhecermos- conheço-te bem.

Não te via há uns anos quando naquele dia me mandaste uma mensagem a saber se eu estava bem. Podia não ter estranhado, mas estranhei e pedi-te que viesses ter comigo. Foste no mesmo dia, a rua castilho; Trocamos números para afinarmos a esquina e lá nos voltamos a encontrar. E foi tão bom ver-te.
Tinham passado prai três anos, a última vez que te tinha visto antes disso foi no dia do nosso casamento.
Lá estavas tu com a cara de sempre e essa tranquilidade de alma - mas desta vez triste; e quando fomos a ver a alma não tava nada tranquila.
Chegamo-nos uma à outra em conversa de circunstância e voltamos ao que era, no ponto de intimidade que tínhamos deixado anos antes. O amor tava todo lá e nesse dia, já depois em nossa casa e como pai e os manos - dia em que os conheceste- tive a certeza que o teu lugar era ali conosco. Devia ter sido desde o principio, mas pegariamos devagarinho por ali e ia ficar tudo bem.

Começámos com jantares para perceber até que ponto querias tanto como nós ser família. muito pouco tempo depois (diria 2 semanas) de tudo isto surgiu-nos na agenda um jantar e lembrei -me de te pedir se ficavas com eles- por eles e por ti.

Não era preciso saber a história toda entre os pontos de tempo que não nos tínhamos visto, eras aquilo que sabia seres, e confiava de coração em ti.
Nenhum de vocês conhecia quase nada uns dos outros mas não foi preciso deixar dicas, a coisa aconteceu com naturalidade - como tinha de ser.

O jantar durou, e quando chegamos a casa tava uma calma instalada e tu enrolada no zé ia a dormir.

Não tinha sido precisa a confirmação mas ainda assim estava ali - há 155 semanas.

Mais sobre esta historia aqui.


12/11/2016

o grande dia da Lisa

Dizia no convite às 13h, afinal era às 14h, erro de typo; acabou por ser às 15h45 com uma noiva que se perdeu no cabeleireiro e um noivo que ia perdendo o juízo com tudo isso.

era o dia de sonho deles, e foi. começou duas horas depois mas isso não tem importância, as noivas podem quase tudo e a Lisa conseguiu safar-se por milagre. O sitio escolhido foi a conservatória do marques, a conservadora Sónia foi santa e conseguiu celebrar com emoção e velocidade super-sónica.

e foi a emoção esperada; Isac foi o primeiro a chorar, mas a lisa não tardou. esperavam há muito por este dia. Foi casamento civil, falou-se de igualdade, respeito e fidelidade, depois eles trocaram votos e acabaram com amén. O stress da festa foi à vida e seguiu a festarola por tarde a dentro.

Algures na pontinha, na fonte santa -mais precisamente entre o cabeleireiro e o stand de automoveis- aconteceu magia. páteo acolhedor, sala com luzinhas da moda, DJ na mesa de mistura e tudo a preceito. mesa dos noivos com padrinhos e para todos os outros mais à vontadinha. e foi tão bom ver um casamento com menos protocolo e mais de espontaneidade. Comida na mesa à mão de todos e dança pelos pés. cachupa, caril, bacalhau, massala (?!) e um role de sobremesas sem fim. O Xavier estava completamente em casa, tudo aquilo era natural nele e estava feliz da vida. um croquete em cada mão e kizomba na bunda.

A pista abriu com um número dos noivos e depois seguiram vários pares, joka padrinho e liza noiva também dançaram balada.

quando já não dava mais para os segurar nas canetas viemos embora. a festa seguiu e eles acabaram numa noite de nupcias em cima do mar como presente de padrinho.

não foi o nosso primeiro casamento Africano, já tinha corrido no sangue esta emoção, mas desta foi ainda mais especial.
A lisa é das minhas e quando é para dar dá de coração todo e isso vê-se. que seja assim no casamento, e que sejam muito felizes para sempre; nos dias em que não for que não desistam de tentar, e vai correr tudo bem.