12/11/2019

Natal de rasgar corações e fazer bonito

Dizer-vos que ontem fui fazer voluntariado com a minha edp. É realmente um orgulho trabalhar numa empresa que faz disto bandeira e incentiva a malta a levantar a bunda do bem bom para ir trabalhar no mais basico e necessário em vidas ao lado das nossas. 
Fui toda lampeira dados os muitos kms em causas que já investi a pensar que faria aquilo com uma perninha às costas.
Chego e já havia malta de pincel a trabalhar,  small mary era uma delas que com convicção dava deixava tudo a brilhar por onde passava. Lançadissima subi pronta para me lançar e fiquei sem ar. Parei, olhei à volta e estava noutro mundo. Aquela casa, chamada da alegria, ajuda casos de doentes que vêm de africa para serem tratados em pt ao abrigo dos acordos que temos. É malta nos olimpicos do mais mal que se pode estar ao ponto de enfiarem no avião com bilhete urgente para vir e resolver. Isto eu sabia, e de alguma maneira estava "preparada". 
Cheguei e tinhamos uma casa que era um bolor pegado em todas as paredes, um acumular de bens velhor doados de quem nao tem nads e aceita tudo com medo que o comboio nao passe de novo, miudos minimos (doentes) a rastejar por uma casa onde moram 13 pessoas e filhos, sem maquina de lavar porque as baratas entram no sistema e estragam tudo.
Quartos separados por cortinas agarradas por molas. Vidas que vêm para resolver rápido e voltar e acabam por ficar anos ali enfiadas. Num buraco que eu achei que não existia. Buraco este que para mim é o fim do mundo para elas é uma mão cheia de esperança findas dum buraco maior ainda. 
Agarrei no rolo freneticamente, como quem quer resolver o mundo sem sequer saber onde fica o norte. Agarrei a directora da casa a perguntar tudo o que podia. Tentar perceber como tudo aquilo existia. As utentes que lá estavam andavam equipadas quase para a neve de tanto frio. Tava completamente desorientada. Desorienta-me tentar perceber como sitios daqueles existem e mais ainda como são tidos como referência em terras de cegos onde olhos dão direito a trono.

Passei de achar a gestão uma total incompetência, para acha-los herois no meio de tudo o que não têm e ainda assim fazem acontecei.



Fiquei mesmo orgulhosa de portugal em receber casos em que mudamos a vida ao mesmo tempo que envergonhada na miseria em que os acolhemos aqui. Se calhar fazemos o essencial em dar-lhes o que precisam. Se calhar sim. Se calhar não sei não. Aquilo para mim não são maneiras de se acolher doentes. Mas que sei eu do mix entre o que lhes damos e a liberdade com que escolhem viver?

Lá vem esta com mais problemas e mais causas. Lá venho. Não vou fazer nada mais com isto. Não tenho força para mais uma frente. Pintei paredes e dei tudo para arrancar aquele bolor. Agarrei o Amado da @justachange e prometeu que no fim de uma semana de trabalho aquilo ia ficar um bocadinho melhor.

Falava com uma querida amiga de toda esta desorientação de emoções e ela, a master de corações e causas, que por isso é que se revoltava com toda a importância que o mundo dá a uma greta com gente ao nosso lado com condições muito basicas por assegurar. Percebo o que diz ao mesmo tempo que acho que pior de tudo é que se viva sem se envolver com nada. Que nada os preocupe além do que lhes entra pela vida a dentro a incomodar.

Sou a chata do costume bem sei. Acho que é esse o meu papel aqui nas redes do swipe for fun and status. Claramente o meu calcanhar de aquiles.

Meu coração não aguenta mais causas agora. Mas deixo-vos a realidade que somos mesmo mais felizes quando damos de nós, e mesmo neste caos coube a alegria de fazer diferente e fazer bonito com a minha super equipa. Que partilhamos mais que secretárias, open spaces e powerpoints: partilhamos emoções intensas.

Boas festas querida gente. Que seja de rasgar esse coração