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3/27/2019

o "nosso" caminho de santiago

dia 1: tui- redondela. 32 kms


Começou leve, levemente como quem chamava por nós. Camaradas caminhantes, transeuntes cheios de energia para nos passar e paisagens mais paisagens para navegar. Rio acima rio abaixo. Estávamos de certo no bom caminho.
Veio o sol e agradecemos o quentinho. Depois o vento e que bom o fresquinho. Iam alternando. Parámos aqui e ali. Parámos muito. Vir de tini mete muitas paragens e não estamos de pressas.
Aos 23 começou o bailarico. vieram as subidas. As descidas. As dores. O mau feitio. O desespero. O martim cansado. O bicho foi mordendo à vez. E mandavamo-lo voar dali sempre que a consciência deixava. Prometemos que quando ficasse difícil passaríamos em cada um dos nossos, e dos pais e mães e irmãos e toda a família querida por quem dávamos todas as perninhas extra. Ajudou uma beca. Até aos últimos 2 kms em que tudo o que apetecia era fazer birra no chão.
Passito a passito, nada suavezito.
Não foi uma etapa muito espiritual, foi muito física. Se calhar no fim vamos chegar à clareza de tudo ou leveza de alma por tanto quilómetro não pensado. Ou se calhar não. Veremos.
3 bolhas e uma unha a cair, tudo meu.chichi e cama. Amanhã é outro dia e ninguém papa milhas por nós.


Dia 2: redondela- pontevedra 19km

Que somos mais fortes do que pensamos. Que deve ser muito mais difícil quando estamos sozinhos.
Que as pedras do caminho também servem para subir. Que levar o cantil meio cheio pesa menos do que a transbordar e apanhamos água onde der. Que sempre que der paramos para um café. Que se não aparecerem bocadilhos para o almoço comemos os restos de ontem e tasse bem. Que o martim pesa tanto como uma mochila mas chora mais (se leva com sol de frente, ou vento ou se tem fome de bezerro). Que quando estamos cansados a porca torce o rabo e 1km parecem mil. Que cada um faz o seu caminho. Uns partem daqui, outros dali e ninguém julga ninguém. Que é bom reencontrarmos-nos. Que os caminhos não são só de peregrinos, nem aqui nem na vida. Que é bom interrompermos-nos uns aos outros. E que todos os caminhos são caminhos importantes de se fazer. Estes e os de todos os dias.


dia 3: ponte vedra- caldas de reys 22km

Prometiam dificuldade moderada. Raios sinto que não tou preparada mas vamos. Metros depois descobrimos que afinal parte da dificuldade tínhamos feito ontem sem dar por isso ca bom (*asterisco para ler no fim). Vínhamos a medo mas afinal o caminho seguia plano e com sol. Menos calor que o habitual. Gente simpática, tanta gente de tanto lado. Imensos orientais e dois deles que pareciam "iguais" afinal não deviam ser porque falavam inglês marado entre eles.
O difícil estava só nas bolhas e falta de unhas instaladas em mim. Apareceu o Rio de água fresca tantas vezes quantas me queixei e la nos refrescámos. Depois a fome e aquele bocadilho seco peco que soube a fois gras. Afinal era tudo e só o que precisávamos. E depois da Sra bajular o menino dissemos para onde iamos e ela em grande alegria disse que era mesmo ali, 1,5kms e não faltava nada.
Que alegria. Afinal a dificuldade prometida era só no livro. Muito melhor que a encomenda.
No fim Javier o taxista trouxe ao hotel desconhecido e não só era top como tinha piscina para descansar calos. E quando a Sra da receção me diz que por acaso vem uma massagista às 5 para outro cliente que em querendo posso aproveitar parecia eu ver estrelas. Moderação no entusiasmo digo eu. Afinal hoje é só e mais nada o dia da t21 e podia este relato ser o caminho dessa nossa história de vida. Da vida dele a nossa. De tudo e mais nada.

Ele há coisas boas na vida mas as melhores são as que se tiram do inesperado. Algumas se calhar até dalgum medo agarrado ao desconhecido que afinal não era nenhum papão.

As dores do caminho vão continuar, mas passam e sabemos que não é por isso que não se faz. E como dizia a minha amiga são marcas boas que vão ficando no coração. Dizia das bolhas mas poderia dizer do resto também.

Hoje é um dia que faz toda a diferença. Sempre fez para nós. Hoje foi o dia em que há 12 anos me espetaste um beijo enquanto distraída olhava para os sinais.
Dia do inesperado, desconhecido e incrível. Dia de reforçar o melhor que bom que a trissomia trouxe à nossa vida.
Saudades de todos, mas muitas saudades tuas meu zé magia. *seria a tal associação onde passamos que deu impulso aos 3km extra sem dar por isso? 


dia 4: caldas de reys-padron 19 kms

Entramos na estação de serviço e descalcei-me tal eram as dores. Ninguém pestanejou. Vimos várias vezes acontecer estes dias. Acham curioso o bebê de resto é normal que tenhas de fazer o que precisas para aguentar o caminho. Falamos de coisas normais claro. Podes pedir batatas fritas ao pequeno almoço e salsichão à ceia. Podes parar à sombra ou onde for. Sabes que se precisares de ajuda é só pedir mas se quiseres só estar assim também está tudo bem. Ninguém está aqui para te julgar. Estamos no mesmo barco.
Curioso que em tantas conversas nunca ninguém pergunta porquê aqui? Porquê agora?
Ainda mais é mês de chuva e todo este sol é só sorte nossa.
A razão é a de cada um. A verdade é que também não sei bem a nossa. Queríamos uma aventura a dois. Queríamos o calor das Caraibas que sentimos nas subidass e a cama com o frio da noite para adormecermos agarrados. Queríamos qualquer coisa inesquecível. Queríamos aproveitar esta licença de paternidade e festejar estes anos de casados. Não sei como acabamos aqui. Ele acha que fui eu, eu acho que foi ele. Às tantas não foi nenhum, era só o caminho.
Saimos daqui com uma certeza ainda maior da enorme sorte que temos nesta vida que construímos e é tão nossa. E trazer este bebé reforça tudo isso a cada sorriso. A vida é boa, e com ou sem bolhas amanhã chegaremos. Mais ou menos paragens. Diz que é incrível cumprir a missão, missão que nem sabemos bem como nos caiu nos braços.
Não te vais lembrar Martim mas depois contamos-te as caras de espanto, as fotos e os colos de todo o mundo por onde andaste estes dias


dia 5: Padron - santiago de compostela 26km

Foram 26 kms de tudo o que era preciso para chegar. Foi parar de 3 em 3 kms para arejar as carnes e um maridão sempre a puxar. Foi encontrar pessoas do primeiro dia, de todos e só deste. Foi ver miudos, e velhotes de não dada. Foi chorar de dores mas ter a certeza que desse por onde desse não ia desistir porque se era para fazer era agora.
Começamos com frio do orvalho e acabamos em calor de caraibas. Tiniwini sempre em altas. Coisa querida de seus pais.
Choque de realidade no último km. Desaparecem as setas e de repente uma multidão de pessoas vestidas normalmente é a comer gelados enquanto tentávamos passar que nem doidos para as ossadas do st james. Achei que seria mais intimista e contava ter colegas à minha espera e ficar eu 3 horas a fazer de claque aos seguintes. Isso às tantas é só nos filmes.
Foi bom fazer este caminho meu joka. Martim foi o mai novo do ano. Ganhamos muitas coisas, coisas só nossas e a certeza haverá sempre uma coisa maior e melhor a puxar pelo melhor de nos.
Obrigada tanica por nos mostrares caminho e seres ninho dos que ficam. Se tu soubesses o quão importante és para mim eras capaz de desmaiar de emoção.
Gosto de ti, mesmo quando não me deixas comer aquele gaufre da Vitória. Nessa altura menos, claro.

 dias depois: fogo de artificio no coração e sensação de liberdade. podemos tudo. mesmo não sendo este o desafio mais difícil do mundo, sabemos, aprendemos que podemos tudo. [até nos esquecemos das dores, incrível]

Dicas para viajar com bebé: bom marsupial (nosso era ergobaby, sejam nos videos deles como andar bem posto que nós somos só amadores), spray nasal para limpar uma vez por dia (shot agua termal ou agua do mar), gotas para conjuntivite (mandou o medico mas não foi preciso), creme protecção total (para ele e para nós), bom agasalho (pode passar do sol à ventosga em 2 seg), vestir por camadas para ir tirando e pondo de acordo com o tempo (bodie, collants, camisola, overall), fraldas 2 tamanhos acima para não estar sempre a mudar e nao vir por fora.
passadas 3 hr fica cansado de andar as costas/frente. temos de ir trocando e parando para descansar. não pesa mais que uma mochila de peregrino, mas precisa de mais atenção <3

dicas para nós: less is more, por muita vaselina nos pés antes de sair. mais vale levar sapatos velhos "menos bons" do que novos e óptimos. andar 2 dias na cidade não faz deles usados. pensos hidro cenas para bolhas ajuda muito, voltaren mesmo nas bolhas para tirar dor (n sei se aconselham mas nas trincheiras ha que inventar soluções).

onde dormir: ha albergues por todo o caminho, numa próxima vez vamos, desta com o baby ficamos em turismos rurais com transfers do caminho para la e volta e as malas transportadas de um em um. fomos através da Portugal green walks, recomendo. custou 430 com noites, transferes, seguro, pequeno almoço e jantar

usei app do samsung para medir kms etc. o caminho está todo sinalizado mas ainda assim ajuda a perceber de vez em quando às quantas vamos.