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7/28/2015

Pseudo post excepcional

8:38 am, acordo com a porta do quarto a bater. Olho para o lado e a Tanica não está. Estive na ronha mais do que devia, ainda há bocadinho dormia ao meu lado que nem um anjinho. Rápido, levanto-me e tento fingir que tenho roupa e ar de gente. Estou um farrapo mas não há tempo a perder, já devem estar todos a acabar o pequeno almoço, se é que não saíram já. Abro a porta e... está o Né a andar tipo ninja e a Tanica com o Zé Ia ao colo a acabar de descer as escadas como se tivesse medo de pisar uma mina. "SURPRESA!" gritam e riem logo pela manhã enquanto tentam camuflar a desilusão de não terem chegado cinco minutos mais cedo, para me terem apanhado a roncar e me poderem saltar para cima tipo trampolim... fica para a próxima. Nisto tudo percebo, estamos de f é r i a s ! E é cedíssimo! Bora aninhar, brincar e aprender a ser grandes com os pequeninos!
Já à mesa, com aqueles pequenos almoços que fazem lembrar os verões da minha infância - não assim tão pouco próxima mas claramente longínqua, os assuntos (como o pão) não param de chegar. De tudo se fala e do melhor se come. Pareço mais envergonhada do que sou, a verdade é que se abrir a boca mais do que o essencial vão achar que ontem à noite virei 10 bagaços, juro que estou só constipada e acordo assim. Estes eventos em família Amada sabem sempre bem, sentimo-nos novos e ao mesmo tempo mobília. Foi óptimo, a Tanica sempre presente nas suas coisas mas sem nunca falhar a atenção no meu bem estar. Falamos como os comuns mortais mas também por telepatia e linguagem gestual, à nossa maneira. Ela é assim, boa demais para ser verdade.
Depois de irmos reciclar o "lixo-todo-de-uma-vez" com o Joca, e de termos perfumado (e acabado com qualquer ser vivo d)o caminho até ao ecoponto, fomos para a piscina com o Né. Altura crucial em que o Né percebeu que na frase do dia anterior "A Tania vai-se embora amanhã" o amanhã já era hoje. Até aqui, amanhã era uma palavra simples que falava de um dia que está perdido no futuro para sempre. Estava óptima... a temperatura cá fora! Mas o Né estava numa de mergulhar logo e de nos mostrar os seus mais novos kits de natação profissional. A Tanica não estava para aí virada, vai daí que o Américo talhante, que tem mais camadas adiposas, tem maior responsabilidade de se mostrar destemido frente aos -2°C da água. Foi a loucura, ainda não disse aos Amados mas com tanto amor geraram um mini Phelps. Entretanto chega a avó Rita (que a minha mãe nos Crismas achou que era irmã da Rosa) com um almoço digno de estrela para o Né. E nós, famintas de um extreme make over, roubámos uma tesoura para me cortar o cabelo. Estava enorme, fraco, rasca. À primeira, comigo a orientar o projecto, consegui que ficasse pior ainda mas depois a Tanica tomou as redeas do salon e domou a fera, já não sou a Lena nem o Hagrid, sou a Madalena e estou pronta para o verão. Conseguimos apanhar o cabelo a muito custo, para não desconfiarem do roubo da tesoura da cozinha. Se entretanto os Amados encontrarem cabelos na comida, não culpem a cozinheira...
Aproveitámos mais um bocado de piscina, almoçámos com tempo, despedimo-nos dos primeiros, fizemos as malas, despedimo-nos dos últimos - a muito custo, porque o Zé não queria por nada deixar fugir a sua mana, ainda por cima a mais gira e crescida, aquela que se dedica mais e que, por mero acaso, é única. Foi a despedida mais bonita, demorada e apaixonada que já vi, tive que sair do quarto para não me cair a lágrima do stress. Ah! Falta a carta para a mãe! Check. Agora sim... rumo a Lisboa!
Coitadinhas destas ingénuas amigas, saíram de casa cheias de fé. "É na boa, vamos para aquela paragem e apanhamos o primeiro autocarro, seja de que lado for porque mesmo que apanhemos para a praia dá logo a volta e temos mais probabilidade de ter lugar sentadas" pensámos. Já in loco "Bem, já estamos aqui há 10 minutos, vamos pedir boleia! - Acho óptima ideia! Faz sinal! - Que lata, fazemos as duas! - Ai nem pensar, que vergonha, a ideia foi tua! - Ok, esperamos pelo autocarro." Passados mais 20 minutos, percebemos que era boleia ou nada. Não passavam autocarros nem para cima nem para baixo. Claro que ouvimos piropos e conselhos pouco ou nada pertinentes para singrar na vida. Ainda sorrimos e acenámos a alguns tios e chegámos a falar com a tia Ana. Claro que o autocarro acabou por aparecer e o comboio foi óptimo para nos despedirmos de Sintra com tempo.
O querido do Ki apanhou-nos e deixou a Tanica em casa, que ia fazer a mesma mala três vezes - à primeira exagera, à segunda ainda mudava alguma coisa, à terceira é de vez. 8 pm, começou-me a doer a cabeça mas vinha dali uma noite tão boa que me estava nas tintas. O Ki, o Zeca e eu voltámos a apanhar a Tanica pelas 21h. Fomos jantar ao Bambu, o spot habitual dos nossos jantares fora, que é só o melhor quiosque da Avenida da Liberdade. Fizemos uma viagem de carro linda de morrer e tivemos um jantar mega animado! A sobremesa foi um gelado do Banana Café (a única concorrência do Bambu). Claro que o Nuno Gomes aparece do nada, atrasado mas irresistível como sempre, cheio de maleitas mas insubstituível. Já nas últimas jolas, minutos antes do Bambu fechar, decidimos ir ver um filme. A minha dor de cabeça continuava ali, estranhamente insistente e irritante. O Nuno Gomes, que tem sempre uma carteira pequenina mas que é tipo Doraemon e tira tudo de lá dentro (nunca tentámos mas se quisessemos muito uma porta ou bicicleta, era menina para ter isso perdido nos confins da sua sacola), saca do kit salva-vidas e oferece-me um ben-u-ron. Não sou dessas, basta-me descansar um bocado e fico boa. Bora fugir deste vento e ver o filme mas é! Chegámos a casa dos Amados e o Nuno Gomes ficou de aparecer lá, claro que tinha mais 157 eventos nessa noite e se foi despedir de mais não-sei-quem no boda.
Escolhemos o filme a muito custo, é difícil saciar quatro vontades diferentes num filme. Claro que adormeci nos 5 primeiros minutos. Acordo depois do filme acabar, com os rapazes a irem-se embora. Incrivelmente estou cem vezes pior da cabeça, que raio se passa comigo? Que neura. Nem três da manhã e estou mais morta que pessoas que foram enterradas há 10 anos. O meu corpo pode perceber que até posso entrar em coma a partir de amanhã mas nunca vacilar antes de deixar a Tanica no aeroporto? Não, não pode, está armado em independente. Coitado, trato-lhe já da saúde, caso não se lembre sou mestre na arte de recalcar, com sorte nem a Tanica repara que estou a mandar as dores de cabeça para debaixo do tapete. A Tanica merece mil vezes mais e só queria uma noite divertida, com jolas e amigos. Os amigos estavam fora, as jolas estavam longe. "Liga ao Ki, se ele ainda tiver aqui perto dá-nos boleia para o bairro!" Assim fizemos e o querido do Ki, que é muito mais do que o aparente chauffeur, apanhou-nos. Deixámos o Zé em casa e a caminho do Bairro eu faço o all out: "Não aguento mais" esta chinfrineira dentro da minha cabeça. Doi-me tanto que já me sinto enjoada e fraca. Começo a chorar de dores e levaram-me para o hospital. Custou-me tanto, estragar assim a noite à Tanica que só queria mesmo uma coisa simples e animada. Aquilo estava para lá de complexo e eu estava a conseguir desanimar Marte. Não era uma hipótese a Tanica ficar sozinha, não era uma hipótese irmos tipo família cigana para o hospital e infelizmente já não era hipótese recalcar as dores.
3:38 am, entrada de Madalena nas urgências do Santa Maria (fim do mês, não há CUF para ninguém). A Tanica em silêncio dava-me esperança e o Ki olhava para mim com ar desesperado, achava que eu ia morrer (esteve quase para ligar ao padre). Esperámos um bocadinho até conhecer o médico mais depilado da história, explorar aquele labirinto, apanhar um susto quando percebemos que até trabalhadores vão fazendo análises no horário de serviço e de finalmente levar o soro e o paracetamol pela veia. Andei com o bobi (como a enfermeira chamou ao poste com rodinhas que suportava os líquidos que me entravam no corpo) algum tempo e finalmente tive alta.
6:03 am, saio cá para fora e vejo o Nuno Gomes outra vez com a Tanica à minha espera. Não é que o jogador da bola em fim de carreira (o cabelo cresceu, a postura está mais feminina, quase que parece a Ana) foi mesmo ter a casa da Tanica, não lhe abriram a porta, ligou à Tanica e veio feita peregrina com o seu cajado (que deve ter tirado da bolsinha mágica do Doraemon) rumo a Santa Maria? Incrível esta amiga! Seguimos para o McDonalds atestar os companheiros de aventura e lá fomos nós para o aeroporto. Por incrível que pareça era cedo, ainda ficámos no carro um bocadinho antes de entrar no parque do aeroporto, que é baratinho como um pequeno almoço na Dinamarca. Eu finalmente ganhava cor e energia e rapidamente assumi o meu alter ego de repórter da BBC Vida Selvagem que regista minuciosamente cada movimento dos animais, até o piscar dos olhos. Entramos no aeroporto e claro que ainda não abriram as portas do voo para Praga. Óptimo, mais tempo para tentar recompensar a Tanica desta aventura de loucos.
A Tanica abriu o coração e foi partilhando o que sentia, o nervosismo, entusiasmo, sono, alegria, tudo. E lá fomos nós para a fila das malas, maior e pior ainda do que os saldos na Primark mas exequível. Demorámos menos do que esperávamos. Fotografias nonstop, contemplação a cada estrangeiro que passava por nós, relatos sobre cada passo que demos nesta noite já nostálgicos e mini tromboses de sono que nos faziam rir até doer a barriga - relembro que estávamos de directa e muito ansiosos/nervosos. A Tanica ia fazer a sua primeira viagem de avião sozinha. E ia fazer voluntariado. E ia tratar de cavalos. E ia para Praga. E ia com muitos estrangeiros. E era a única portuguesa. E é a Tanica!
Sabem quem é a Tanica? Alguém absolutamente extraordinário. Bem podem procurar alguém parecido mas nunca neste mundo e nesta vida vão encontrar alguém assim. Pequenina de tamanho mas tão mas tão grande de coração. Uma despachada, muito simples e prática. De tão simples chega a ser complexa. Desbloqueada em tantas coisas que só apetece pedir-lhe para ser nossa orientadora espiritual. Desprendida em tudo e ao mesmo tempo a maior dependente, única e exclusivamente das suas pessoas. Só avança com elas, mesmo que sozinha vá mais rápido e mais longe. Viciada no backstage, sem fazer ideia. Não precisa nem adora mostrar-se. Fazer o bem e puxar pelas pessoas está-lhe no sangue. Confia cegamente mas não é parva nenhuma. Flexível, tolerante e acolhedora. Exigente, mais com ela do que com os outros. Verdadeira, humilde e entregue. Impulsiva mas crescida. Quer sempre mais e melhor mas recusa-se a ser alguém a não ser ela própria. E isto não é nada...
Chegamos ao momento tão esperado pela noite, o embarque. Depois de despedidas um bocado intensas - basicamente foi como se a Tanica fosse para Zimbabwé durante 10 anos, a Tanica mostra o... o bilhete não funciona. Ah e tal novas tecnologias, pode levar o bilhete no telefone... deve ser! Apanhámos um susto mas o Ki-turista-de-profissão soube logo reagir. Fomos imprimir o bilhete a uma banquinha e voltámos ao embarque. Despedimo-nos como gente grande e despachada (só porque a Tanica não estava para cenas melosas tão cedo) e lá foi ela, cheia e leve ao mesmo tempo, como sempre... rumo a Praga.

[Escrito pela nês, a querida madalena amiga da Tânia. Que nas horas vagas passa por américo talhante. É isso tudo e muito mais, é espetacular. ]