O PEI de janeiro em infinitas linhas
Esta fotografia ia ontem para o álbum de janeiro mas depois ir uma questão de zoom e falta de vontade para detalhar contexto achei que não fazia sentido. Acontece que fiquei a pensar nisso. No caminho que tenho feito até aqui sobre a importância destes papeluxos e no que ainda preciso de aprender e se calhar todos juntos sabemos melhor.
Janeiro foi também o mês de receber o PEI do Zé (e observem que eu própria precisarei de busca detalhada paralela de alguns acrónimos para contar esta história). Significa plano educativo individual e estabelece o que a equipa pedagógica que o acompanha acha que ele precisa e consegue e com isso adaptam o plano normal curricular da escola (e nacional) ao que o Zé vai trabalhar de magia este ano.
Nos primeiros 6 ou 8 anos da vida dele lutei imenso para que não tivesse este plano. Para que não nivelassem por baixo o que podia aprender e olhassem para ele dando-lhe as mesmas oportunidades de perceber o que conseguia ou não fazer como os outros. Dei algumas dores de cabeça a bater o pé numa convicção que tenho ideia de ter aprendido de partilhas de outros pais, no dia em que comecei a ter dúvidas da minha abordagem liguei à Marcelina. Lembro bem que ia de carro de um lado para o outro, a meio de um dia de trabalho em que enfias tudo o que é extra nas horas de almoço porque não cabe em mais lado nenhum, imagino-me super atabalhoada em pensamentos e a descarregar-lhe quase todos ao mesmo tempo para ela me dar a solução perfeita porque tinha a certeza que ela sabia. A escola devia estar a pedir que sinalizasse o Zé para que pudessem mobilizar apoios mais específicos para ele sem que fossem todos suportados por nós numa perspectiva nossa de que seriam transitórios até ver. A escola queria que os tornássemos definitivos e eu já tinha lido algures que isso podia não ser bom. Não tenho certo o detalha com que a Marcelina aturou o detalhe das minhas dúvidas mas sei que o fez e que acabei esclarecida que estava na altura de assumirmos um plano que corria ainda perto mas em paralelo, e eu continuaria a lutar parar que os paralelos fossem muito próximos.
Mais 6 a 8 anos depois passaram e a minha relação com estes papéis é gerida com o distanciamento suficiente para não me deixar levar por um papel e uma enorme vontade de perceber como é que ele compara com o resto para garantir que continuo a continuar assegurar o paralelismo das retas. Quero por um lado ter mão e por outro entregar de caras a jogada à equipa que está com ele porque acredito piamente que só se levam missões com o coração inteiro quando temos liberdade para as levar também pelo caminho em que acreditamos.
Então em janeiro chegou o papel para eu assinar e validar. (Demora este tempo desde o princípio das aulas para que os professores olhem bem para ele como ele é e está e possam pensar instrumentos para o ajudar a crescer e ser uma pessoa activa na sociedade - objetivos que alinhamos juntos). Tudo isto para vos contar que o papel chegou e o Zé todos os dias dizia “mãe a professora rita diz que a mãe tem de ler e assinar para eu levar de volta, já assinou?”.
No primeiro dia dei à super professora que temos em casa a trabalhar com o Zé ao fim do dia e conhece como ninguém o que ele consegue fazer em termos académicos. Melhor que ninguém sabe todos os métodos que resultam e tem a certeza que até agora houve sempre um que o levou a conseguir os objetivos e basta procurar e trabalhar com ele sem desistir. Insiste que ele tem de ler e tem de ler muito para que fique cada vez melhor a ler o mundo e o consiga perceber. E eu estou com ela. Acho-a uma enorme benção na nossa vida e emociona-me sempre que penso no amor e trabalho que dedicam juntos tantas tardes em que se constrói presente e futuro.
Depois deixei-o em cima da mesa da entrada e disse ao João para ler e tenho ideia que fugiu o mais que pode da situação dada a complexidade. 3 ou 4 dias depois mica estar cá em casa o Zé mais uma vez lembrou que tinha de ler e assinar que a professora rita já tinha pedido há dias. Pegamos nela a caminho da escola e pedi ao manel que me lesse no caminho, liamos juntos e ele também me dizia o que achava do que estava escrito e foi isso que me levou a escrever tudo isto (neste diário sabe Deus do quê). O manel lia com paixão e ia comentando o detalhe, “saber os números até 500? Acho que podemos mais” ou “conheço este professor e ele é bom a fazer isto acho boa ideia mãe”, ao mesmo tempo que também disse “caramba isto está aqui um trabalho mesmo bem feito, eles devem ter demorado muito tempo a fazer isto para o Zé”. E devem e ele tem razão e eu acho uma emoção que tenhamos chegado a este dia em que fazemos também este caminho juntos e ele me ajuda e pensa comigo os caminhos do mano. O tal caminho que ele faz muito em paralelo, num paralelo que, mais vezes do não, se toca. Assinamos e não fiz nenhum comentário por duas razões: acho a equipa que trabalha com o Zé verdadeiramente apaixonada e competente para pensar isto se calhar melhor que eu e reconheço a enorme sorte de tudo isto. Não quero estragar a magia.
Continuo a não saber comparar o nível de exigência que aparece para o Zé com os dos outros e adorava conhecer em detalhe outros peis de outros zés para perceber se existem coisas que não estamos a fazer ou que podíamos fazer melhor. Acho que o essencial é que trabalhe muito com diz a nini e nunca se desista de trabalhar mas acho que também tão essencial é que a equipa o leve com a liberdade e convicção de uma missão deles que juntos vamos mais que ganhar.
Daqui a “5 min” acaba este ano e começa outro pei e vou achar outra vez tudo isto intensamente. Vou-me sentir encontrada e perdida no mesmo segundo e não vou saber o que fazer.
Se desse lado também é isso estamos juntas.
Não tenho falado de inclusão porque me sinto numa enorme bolha de privilégio que pode ser é parecer injusta, o mundo está um lugar estranho é difícil para muitos neste campo. Com este testamentozinho acho pertinente lembrar ao diário que estamos aqui e temos estas lutas que nos fazem crescer muito. Não pensamos sempre os mesmos temas da mesma maneira e às vezes (tantas) não sabemos o que pensar e isso nos faz não querer partilhar. Acho que a solução pode também ser só essa a de encontrarmos conforto nas partilhas uns dos outros com a empatia de quem não esta a competir pela razão mas quer muito saber a do outro.
E uma medalha para quem chegou ao fim. 🏆🏆
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