Entre câmaras e ecrãns



Recebi uma mensagem da Filipa sobre a possibilidade de ir a um programa de televisão, trocamos números para falar melhor. Confesso que ia sem grande vontade de dizer que sim. O telefone tocou e a Filipa contou-me a sua história. Que tinha tido uma tia com t21 que foi das pessoas mais importantes na sua vida, que hoje lhe fazia muita falta, que tinham idades parecidas e cresceram juntas e sabe o tanto que estas pessoas acrescentam à nossa vida. O meu não nesta fase já era um nim de alegria ao conhecer a história dela, enrolada na minha também de alegrias e perdas. Prometi ajudar, contei-lhe a nossa história e disse que conhecia uma ainda melhor, a história a Joaninha, das melhores histórias que a trissomia me contou. Não só pelo cromossoma a mais mas pela espetacularidade daquela família, daquela capacidade e entrega em tudo e também com aquela mini super joaninha. Conheço o tipo de loucura e gosto de partilhar a vida com pessoas assim, ainda que à distância duns bons 300 e tal quilómetros.

A cena foi-se desenrolando e eu estava contente de ter ajudado sem ter de ir lá fisicamente. Na véspera a Filipa voltou a ligar, teve uma desistência e precisava e mais uma familia: a nossa. 
Nunca é  de ânimo leve que se diz que sim, primeiro porque expomos os nossos numa situação que pode não lhes ser confortável, depois pelo pelo e responsabilidade de representar uma causa. E tudo isso tem claro dois bicos. Porque é claro que sou a primeira interessada em desmistificar e quero muito poder explicar a outros pais que podem estar a passar pela descoberta que também nós passamos que está tudo bem. Que parece difícil e marado mas está tudo bem e não é assim tão diferente.

Então fomos. Eu, o zé e o xavier para não deixar o zé na spot light sozinho (mal sabíamos que havia mais criançada para a festa). Ia convicta do que queria dizer: que é assustador mas depois não é nada. Que não têm um percurso exactamente igual mas seguem mesmo ao lado e que é extraordinário ter pessoas destas ao lado. Que são pessoas de pessoas, que agarram as pessoas pelos corações e (em podendo) nunca os deixam cair. Que precisam da nossa ajuda para ter as mesmas oportunidades de estudar e seguir a própria vida mas que isso mais que pesar nos ajuda a nós a estar mais centrados e ser mais felizes. Que são mindfullness e amor concentrado, que são resiliência, entrega e sonhos num dos melhores packs que a vida nos deu. E era isto.

Meteu-se a festa e não deu tempo para tudo. Para quase nada. Percebi ja no ar que iam por o meu zezecos a cantar, não há dúvida que é só delicioso ouvi -lo a cantar música de queen e campeões, tal como Beatles e let it be ou até um good old yellow submarine, para listar algum o repertório ;). Mas mãe que é mãe tem o dobro dos nervos deles e o triplo do medo de os ver falhar, porque afinal ele é só um miúdo de 6 anos, com micro para Portugal inteiro e a sentir o peso grande de tar a ser super, hiper e mega observado.
Mas depois ele brilha e até parece a história que lá tinhas ido contar: que é assustador, às vezes mete medo, mas está tudo bem, ele vai-se safar e chega mesmo a ser mágico.




Obrigada a todos pelo amor. Obrigada ao Ben por dar a mão aquele coração e ser voz que puxa a dele. Ele em casa é bastante mais fluído, não mais afinado para pena se seu pai.

Obrigada Cristina por nos abrires a porta de tua casa.
Foi esta a nossa história daquele dia, foi de campeão.

podem ver do que estamos a falar aqui

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