história de adoção #1



Nós não temos mais filhos e tivemos cerca de 4 anos à espera. Elas vieram para casa em Junho de 2018, a mais velha com 6 anos e mais nova com 5 anos.

O momento mais difícil foi sem duvida quando ao fim de 3 dias de nos termos conhecido, elas vieram para casa. Acho que nenhum dos 4 sabia o que fazer ou o que sentir.
A espera sem notícias também não é fácil. Foram praticamente 3 anos, sem um único contacto da seg. Social.






Eu vou-vos contar um pouco da nossa história. Eu engravidei e perdi 2 vezes os bebês. Depois nunca mais consegui engravidar. E fiz 6 tratamentos de fertilidade sem sucesso. Quando falei com o meu marido e ponderamos a adoção. Nós tínhamos o sonho de aumentar a nossa família e existiam crianças necessitadas de uma nova família. Assim juntávamos as 2 situações. 
Tratamos de todo o processo e optamos por 2 irmãos, o pensamento foi: nós já estamos hà dez anos a viver sozinhos e não queremos que a criança que vier se sinta a mais. Também não queríamos ter um filho único.

Depois fomos aprovados e penso que aí o sucesso do nosso casamento foi não termos vivido os 4 anos a pensar na adopção e fazer planos. Nós fomos vivendo uma vida a 2, sem ter a certeza que algum dia poderia vir a aumentar.

Até que chegou o nosso dia, estávamos de férias na Holanda e recebemos a chamada da seg. Social. Aí sim, a nossa vida deu uma grande volta. 

Tivemos 3 semanas para preparar tudo. E em menos de um mês elas estavam a viver connosco. Foi uma loucura muito boa.

Os dias na instituição eu achei francamente maus. Sinceramente não gostei. E penso que se faz uma ideia romântica acerca desse momento.
Os primeiros dias não são fáceis assim como tudo o que nos vamos apercebendo. Miúdos tristes e frustrados por não serem eles a sair. Miudos muito pequenos a serem institucionalizados. E uma ideia romântica (que nos fazem passar) de que olhamos para eles e achamos logo que são nossos filhos. Isso não acontece. 
Eu ao segundo dia disse à minha mãe que não valia a pena ir comprar sapatos para elas pois eu não era como os outros casos. Eu não as sentia ainda como filhas. A minha Mãe e as minhas amigas riram-se. Houve uma amiga que me disse que ao fim 6 dias do filho ter nascido ainda não o sentia como filho. Aí pensei ainda tenho 4 dias. Ahahaha

Nessa fase acho muito importante falar sem tabus, aliás acho que se deve falar sempre sem tabus. Não termos medo de falar dos nossos sentimentos. Ajuda imenso. Percebemos que o que sentimos também outros já sentiram. 


Fomos de férias com amigos, para a praia, achámos que ia ser óptimo para elas. chegámos e elas sempre tensas e a vomitarem. nós sem perceber nada. Resolvemos vir para casa mais cedo e foi uma grande alegria para elas. Quando chegaram a casa davam beijnhos nos móveis. Ou seja estiveram os dias todos de férias a pensar que não iam voltar para casa. E nós a acharmos que lhes estávamos a proporcionar uns momentos óptimos.

Entretanto entraram na escola, já foram baptizadas e foi um momento de grande emoção. Está a correr tudo bem. Elas já dizem "o meu Pai" e a "minha Mãe" e nós sinceramente já nem sabemos viver sem elas
Estamos na fase final. A aguardar a famosa ida a tribunal.

Sabe que eu acho que a ideia romântica que muitas vezes se tenta passar não ajuda. Eu em certas alturas fiquei muito frustrada, mas como não tenho problemas em falar com a minha família e amigos percebi aquelas reacções não eram assim tão estranhas.
Mas imagino que seja muito difícil para quem não goste de falar disto e que inclusive ponha em causa o sucesso deste projecto.

Mas neste momento, com altos e baixos, somos uma família muito feliz. 
E sinto-as como FILHAS.

Inês, algarve




 *estas mães partilham as suas historias para sabermos todos mais sobre o processo e as suas emoções. as historias variam de família para família, como nos nascimentos. não é tudo um mar de rosas, e é preciso aprender a ser mãe e pai e filhos. no fim do dia dizem que voltariam a repetir.
edito ao minimo a conversa que tiveram comigo. gosto de manter nas linhas a identidade da história.



Comentários

  1. O nascimento de uma mãe nem sempre é fácil e feliz... Dizem-nos mil e uma coisas da maternidade mas muitas vezes não é bem assim. Eu tive 9 meses para me preparar, ver a barriga a crescer, preparar enxoval, quarto, etc... E quando ele nasceu eu não senti nada. Tinha um gaiato ali ao lado para dar de mamar e mudar a fralda. Aquele amor de falam não apareceu logo, foi aparecendo, com tempo e paciência. Imagino que a adopção é um processo bem mais complicado mas o amor se regado vai crescendo do 0 ao infinito!

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  2. Tão verdade! Senti-los como filhos demora.
    É difícil, frustrante. Não sabemos o que vai lá dentro. Mas no final das contas vale tanto a pena! Pequenos progressos são batalhas vencidas! E o amor torna tudo bem mais fácil! Beijinho Ines!

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