as casas de facto ajustam-se ao que somos


Tenho pensado em como as casas de vão ajustando ao que precisamos e ao que queremos na vida.


Há casas gigantes sem espaço para nada e outras mínimas com imenso espaço.

Ando fascinada com uma chinesa que tem uma horta/jardim de sonho numa varanda de prédio e de repente vive num jardim maravilhoso.

Este anexo para onde fugimos para trabalhar já foi tudo nesta casa. Começou por não ser nada, nem fazia parte na verdade. Depois a mãe viu que não podia uma divisão de outra casa estar em cima da varanda do vizinho. Fez uma parede e ele ficou aqui tipo ilha. Foi quarto da desarrumação e tinha pouco uso até ao dia em que trouxemos a tanica para casa. A tralha que daqui saiu mostra tudo o que não queria muito ser a dar espaço a um dos nossos maiores sonhos. Não foi uma decisão muito pensada na altura. Tínhamos um t2 e dois filhos. O quarto deles não era grande, não sei se caberia lá mais uma tanica. A verdade é que: quando no dia e na hora alinhamos os corações e foi claro qua a vida dela era nossa, nem pensamos bem como seria na pratica. Depois pensamos na tal ilha e transformamos com tudo o que tínhamos e com a ajuda de todos sobrou. A Rita deu a cama de solteira dela, puxei para dentro o antigo armário de costuras da avó, fui à drogaria da rua de cima e pintei tudo de branco para a paz de um quarto novo. Daqui ainda consigo ver uns pingos que ficaram no chão tal era a minha vontade de fazer tudo num dia. Colei fotografias da tanica por todo o lado, não sei onde vi mas achei boa ideia e imprimi em MDF prontas para colar nas paredes, ou pendurar nas prateleiras ou onde ela quisesse. Lembro-me de lá no meio estar ela a rir em frete a uma trepadeira de flores.

Quando ela chegou pela mão do xico não tinha muitos sacos e não pudemos arrumar nenhum tal era o fedor a tinta por secar, dormiu com eles nessa semana. Uns enrolados nos outros e se calhar, se não houvesse esta ilha tinha cabido muito bem ali.

As casas de facto ajustam-se às nossas vidas e pensar no tanto que já fomos contruindo aqui e tantas histórias que há para contar. Anos mais tarde investimos tudo o que tínhamos para aumentar a casa e a tanica veio finalmente para dentro. Vieram mais dois. A Belém e agora a galinha. Ninguém pensa em ter uma galinha num apartamento e é de facto uma loucura mas a verdade é que nos temos divertido.


Estou a adaptar a horta na varanda à galinha, fazer uma capa de rede de galinheiro para ela não me comer morangos. Passei o domingo a pregar e não ficou lá grande coisa na verdade. Tenho esperança que ainda fique. E estou aqui da janela da ilha a pensar em tudo isto que vamos construindo para o que queremos da vida.

 

Não sei porque dei por mim a pensar nisto. Talvez venha da formação que estamos a fazer para talvez ser família de acolhimento de bebés/crianças, está a ter imenso impacto em nós como pessoas. Tenho imensa vontade de conhecer todos os que estão connosco no grupo, pessoas todas tão diferentes, ouvir as motivações e medos de cada um faz-nos a todos crescer. Faz-nos ganhar espaço para mais, seja o que for que vem a seguir. Já dou por mim guardar nos favoritos berços ou o que seja que podemos vir a precisar e depois realizo que tudo isto é de delicioso. Como aqueles chocolates bons que se vão derretendo na boca.

 










Comentários

  1. É mesmo verdade. Nós somos uma família de 5, com crianças de 5, 7 e 11 e vivemos num apartamento de 90m2 e quando esta pandemia começou, há um ano, mudados há uns meses para esta casa, achámos que não íamos caber, que o espaço exterior do bairro, que era um prolongamento da casa, fazia tanta falta, que não havia espaço para mais zonas de trabalho... e tudo foi sendo encaixado e harmonizado... só queremos que este covid nos volte a deixar ter a casa cheia, de família, amigos nossos e das crianças... porque, como eu também costumo dizer, não é o espaço que é importante, é a nossa vontade! Gosto muito de te ler.

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    1. vai ser tão bom quando voltarmos a poder trazer vidas mais perto das nossas. para já parece que vivemos tempos de lamber ferias, de nos lambermos uns aos outros de ajustar ao que nos é confortável com a tempestade que se vive lá fora. acho que vou guardar os textos mais íntimos para este canto, achei que ninguém lia. foste uma agradável surpresa. obrigada <3

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