6/14/2021

na casa da professora


Ficámos na casa da professora, e o conceito era tão simples como isso: a casa que fica a 10 passos da escola.
Dei por mim a pensar nisso, no que seria a vida dela. A casa era um t2, agora dois quartos mas se calhar antes 1 quarto e um escritório onde passava tempos a planear as suas aulas. No inverno o calor da salamandra dá uma ajuda. Verão tem de arejar tudo e não se desfocar com o som dos grilos. Não tem tv, porque não se tinha. Devia ler horas, professoras devem todas gostar de ler ela deliraria. Depois também teria de cozinhar, com sorte gostava ou alguém dono da quinta reparava e fazia-lhe chegar uns mimos. 1 vez por semana ia estrada fora à mercearia comprar o que faltava. Animava os miúdos do bairro inteiro. Às tantas conhecia uma ou outra rapariga da zona e alinhava nuns jantares de vez em quando, não sei se a moda do desanuviar era em restaurantes, casas de amigos ou bares da cidade. Talvez tivesse de esperar pelos bailaricos de Verão e com sorte não se cruzavam com os dias que ia de férias à terra. Apanhava uns em setembro e colava um ou outro rapaz para o inverno. (Tou a imaginar tudo em novinha, vale para todas as idades claro, mas quem iria para a escola de um monte agrícola se não uma verdinha acabadinha de sair da universidade?)
Pegando no tal bailarico, ele oferecia para a levar que o caminho era longo, não sei se a pé, de burro ou de carro, lá chegariam. Ela de sapatos na mão com pés cansados ele entusiasmado de a trazer a casa e começava a chovada. A sorte de tudo isto é que tem alpendre, não deixa entrar chuva e protege de quem quisesse ver o que se passava naquele dia àquela hora com a professora da primária.

E quem sabe dai vinha amor que durava para sempre ou pelo menos até à primavera. E estendiam a manta como eu, desembaraçavam um sitio para prender o chapéu de praia e ficavam ali os dois enrolados a contar histórias de apaixonados. Como eu e o zecos (o pai via a bola não dava pra estes preparos) 🤪

E foi isto. Parar, ficar a olhar, estender as pernas e não nos preocuparmos com mais nada que não isto mesmo. O sonho do restaurante tava logo ali ao passar da estrada, tinha pratos típicos alentejanos e uma simpatia que no campo parece mais entranhada. Mesa posta a contar connosco em frente ao estadio do euro e dois sorrisos rasgados. Foi ao ponto do xavier perguntar sempre "oh mãe mas conhecemos este sr velhinho? Ele fala tanto connosco". É assim quando se tem tempo my lobe. E às tantas devia ser assim sempre.

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